domingo, 1 de maio de 2011

Repetência e Evasão. Filhas da educação brasileira

Defasagem idade-série atinge metade dos alunos e provoca abandono; situação no ensino médio é pior.


Sala Vazia. web
Do educAÇÃO BR
Repetência e Evasão. Irmãs e filhas da educação brasileira.
Sobre a repetência, nossos estudantes enfrentam muitas dificuldades para passar de ano com qualidade, muitas escolas a mando de suas secretarias adotam uma politica de governo que blinda as gestões da realidade que é a repetência da maioria esmagadora dos nossos estudantes que neste sistema sucateado não aprendem o que devem ou poderiam, aprendem só o que conseguem. Tudo que interessa para os governos são os números, não a qualidade, sempre pensando no eleitoral e não no social, na tentativa de alterar o real, fazem a aprovação quase ou automática. O famoso “finge que ensina, finge que aprende” impera.
A evasão escolar, entre outros fatores é muito provocada pela falência desse tipo de politica para acabar com a sua irmã, projeto que já nasceu falido, o nosso péssimo sistema educacional, mesmo que aprovando a galerinha de qualquer jeito, de forma automática, não consegue evitar o inevitável, a fuga desses jovens que não enxergam a escola como algo importante para a vida deles, por ela realmente não ser. A meninada acaba sabendo muitas vezes que aquela "aprovação" não lhe serve de nada.  É um grande êxodo estudantil, de um lugar ruim (escola pública e até privadas) para o “sabe-se lá o que será”, a vida da nossa juventude, o futuro do Brasil.

Publicada em 01/05/2011 às 22h41m - O Globo
Demétrio Weber e Carolina Benevides
BRASÍLIA e RIO - O vendedor Yohann Moura parou de estudar no ano passado, ainda na 1 série do ensino médio. Aos 19 anos, ele é o retrato de um dos desafios da educação brasileira: reduzir a repetência e a evasão, garantindo que mais jovens concluam o ciclo básico. Num país onde quase todas as crianças têm acesso à escola, menos da metade consegue, na idade prevista, terminar os ensinos fundamental e médio.
A última Pnad (2009), do IBGE, revela o abismo que se cria nas salas de aulas. De cada cem crianças na faixa de 7 anos, 98 frequentavam a escola. Mas, quando se olha para os jovens de 15 anos - idade em que todos já poderiam ter concluído o ensino fundamental - só 47% chegaram lá. Ou seja, a maioria que consegue terminar o ciclo, o faz acima da idade prevista. No caso do ensino médio, é ainda pior: apenas 37% da população de 18 anos tinha o certificado de conclusão.
O matemático e consultor em educação Ruben Klein tabulou os microdados da Pnad. Aos 16 anos, 63% dos brasileiros haviam completado a 8.ª série; aos 18 anos, 75%. Mesmo aos 20 anos, só 79,2% tinham terminado o ensino fundamental. Ou seja, um quinto dos jovens nessa faixa etária (20,8%) não havia concluído o fundamental.
- É por isso que eu digo que o ensino fundamental não está universalizado - afirma Klein.
Desde 1999, mais de 95% das crianças de 7 anos estão matriculadas na escola. Esse índice chegou a 97%, em 2004, e, desde 2008, está em 98%. O afunilamento à medida que os anos passam é resultado da repetência e da evasão, que já foi maior.
Em 2009, 14,8% dos alunos de ensino fundamental não passaram à série seguinte, por causa de reprovação e abandono - nada menos do que 4,6 milhões de estudantes. A realidade foi pior no ensino médio: 24,1% dos jovens (1,9 milhão). O desafio dos educadores é tornar a escola atrativa
Não é à toa que, mesmo entre os jovens de 19 anos, somente 50,2% tinham concluído o nível médio, em 2009. Na faixa dos 20 anos, só 55%. O levantamento de Ruben Klein mostra que esse índice estava em 35%, em 2001.
O vendedor Yohann trabalha numa loja de móveis, em Nova Iguaçu. Ele conta que repetiu a 6 e a 7 séries. E reclama que os conteúdos não tinham relação com o seu dia a dia: - Sei que estudar é importante, às vezes penso em voltar, mas a verdade é que não tenho mais ânimo. Depois que comecei a trabalhar, passei a depender do dinheiro. Nunca tive muito interesse em fazer faculdade, não consigo focar nisso e a escola não me ensinava o que eu queria.
A presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Maria Nilene Badeca da Costa, diz que o déficit de aprendizagem nas séries iniciais leva ao abandono. Para ela, que é secretária de Educação de Mato Grosso do Sul, a prioridade é manter os alunos na escola:
- Nosso desafio, como educadores, é tornar a escola atrativa - afirma.
O professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Romualdo Portela de Oliveira diz que o atraso escolar está ligado à cultura da repetência - problema que já foi mais grave. Além do gargalo no fluxo escolar, ele diz que é preciso melhorar a qualidade do ensino e o nível de aprendizagem dos alunos.
- Está melhorando, mas não está bom - diz Romualdo.
A secretária municipal de Educação do Rio, Claudia Costin, diz que a defasagem idade-série contribui muito para que os estudantes decidam sair da escola. Para ela, fazer parte de uma turma com o qual não se identifica e aprender conteúdos sem a linguagem apropriada à respectiva faixa etária deixa qualquer estudante infeliz:
- Quando o aluno sente que não está aprendendo, quando não percebe aquele conhecimento como útil para a sua vida, ele sai - diz.
A secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar, admite que a distorção idade-série é um problema. Mas afirma que a situação está melhorando. Ela observa que, para o MEC, a idade de referência para a conclusão do ensino médio é 19 anos - faixa em que 50,2% dos jovens tinham terminado essa etapa, em 2009. Em 2010, teve início um projeto do MEC, em parceria com a iniciativa privada, para capacitar professores em quase mil municípios. O foco é combater o atraso escolar.
- Está melhorando. O Brasil é considerado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) um dos três países que mais melhoraram, junto com Luxemburgo e Chile - afirma Maria do Pilar.
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