sábado, 14 de setembro de 2013

Estudantes na aldeia. Pesquisa de campo na Aldeia São José do povo apinayé em Tocantinópolis - TO.

Projeto ação desenvolvido por professores e discentes do Colégio Dom Orione pesquisa a cerca de temas sociais relevantes para a comunidade escolar, para cidade de Tocantinópolis e região. 


Pesquisa de campo – Aldeia São José – Apinayé. (Fotos de Dhiogo Rezende)

Estudantes do 3º ano do ensino médio e professores do Colégio Dom Orione de Tocantinópolis, unidade de ensino conveniada a rede estadual do Tocantins, realizaram uma atividade diferente e fora das paredes da sala de aula no dia três de setembro de 2013.

A pesquisa de campo faz parte do projeto “Reportante”, projeto ação desenvolvido por professores e discentes a cerca de temas sociais relevantes para a comunidade escolar e para cidade de Tocantinópolis e região tocantínia. A pesquisa foi realizada na Aldeia São José, do povo apinayé e reuniu informações através de entrevistas e depoimentos de lideranças e chefes de família referentes à relação de consumo de produtos da sociedade não indígena.  

O objetivo dessa pesquisa de campo dentro do projeto é construir reflexões e entendimentos sobre a etnia apinayé e sua organização social, seus modos de vida frente aos impactos causados pelo contato histórico com a sociedade envolvente na cidade, em suas relações sociais a partir de produtos comprados pelos indígenas nos mercados de Tocantinópolis.

A partir de relatos dos próprios estudantes, em atividade direcionada a temática indígena anterior à visita da pesquisa de campo, constatou-se um quadro de extrema desarmonia apoiada em preconceito, desconhecimento e desvalorização que beira a xenofobia entre os indivíduos da sociedade não indígena para com a indígena na cidade que recebe com frequência a visita de índios a procura e necessitados de produtos e serviços.

Constitui-se objetivo do projeto e da pesquisa aliada a analises a luz de materiais teóricos da ciência antropológica e da história, compor instrumento de conhecimento que trabalhe e harmonize as relações sociais visando ampara-las em visões mais coerentes com a realidade dos povos indígenas frente ao processo histórico de colonização e contato com a sociedade nacional, a fim de promover interações mais saudáveis e respeitosas às diferenças culturais.

Os apinayé que já chegaram a ter uma população de cerca de 4.200 no século XIX de acordo com Cunha Matos, diminuindo drasticamente para 150 indivíduos segundo Nimuendajú em 1928, atualmente tem uma população de 2.067 (Siasi/Sesai, 2012). Estes números tirados de Povos Indígenas no Brasil, site do ISA – Instituto Socioambiental são mostras do processo de impactos dos contatos através dos séculos com a sociedade nacional, onde traços negativos deste processo ainda persistem no Brasil moderno, fazendo-se necessárias, ações e atividades governamentais ou não, principalmente partindo de instituições como escolas que possam se fazer de instrumentos mediadores e propositores de relações mais harmônicas.


Quatorze (14) índios, entre lideres e chefes de família, foram entrevistados e responderam um questionário com perguntas relacionadas ao consumo dos indígenas e suas famílias por produtos na maioria “não indígena” em mercados da cidade de Tocantinópolis - TO.

A pesquisa de campo e seu questionário foram idealizados pelo professor de História Dhiogo Rezende em parceria com a professora Alessandra Brandão de Geografia, o professor de filosofia Willian Medeiros e a coordenadora pedagógica Hélida Brilhante. A coleta de dados em campo foi feita pelos estudantes do 3º ano do ensino médio do Colégio Dom Orione de Tocantinópolis – TO. As observações e os resultados da coleta serão analisados para levantamento de conclusões posteriormente com o andamento dos encontros do projeto. 

Resultados da pesquisa. Dados coletados em pesquisa de campo no dia três de setembro de 2013 na Aldeia São José (apinayé) – Tocantinópolis. 

Quatorze (14) índios foram entrevistados (lideres e chefes de família) por estudantes do 3º ano do ensino médio do Colégio Dom Orione com a orientação e supervisão de professores, responderam a questionário na Aldeia São José, destes, dois (2) entrevistados residem na Aldeia Palmeira, dois (2) na Aldeia Serrinha e um (1) na Aldeia Macabina, os demais moram na Aldeia São José.

A maior parte dos entrevistados tinha idade entre 21 e 45 anos, entre eles um senhor de 80 anos, um dos mais velhos de São José e de outras aldeias apinayé. Os poucos que relataram, as suas rendas variam de R$ 150,00 a mais de um salário mínimo.
·         Dos quatorze (14) entrevistados, todos disseram preferir produtos naturais aos industrializados (mandioca, arroz, milho, foram exemplos), apenas um (1) disse preferir industrializados e outro disse ter preferência pelos dois (café e açúcar foram exemplos de industrializados).
·         Todos exceto Três (3) entrevistados afirmaram haver poucos ou muitos produtos que poderiam ser produzidos em terras indígenas, mas que são comprados na cidade, fava, mandioca, arroz, milho, tomate e batata foram citados.
·         Dos quatorze (14), dez (10) disseram que a frequência de idas a cidade para fazer compras é mensal, três (3) disseram que é quinzenal e um (1) disse que é semanal. Nove (9) disseram que essas idas são programadas, planejadas, os demais disseram ser aleatórias.
·         Na ordem de maior e menor consumo (quantidade de produtos), em 1ª lugar estão itens de gênero alimentício, em 2º estão primeiramente produtos de vestuário e dividindo a posição aparecem produtos de limpeza e higiene e em 4º e 5º aparecem respectivamente produtos eletrônicos e os que são considerados para lazer.
·         Dos quatorze (14) entrevistados doze (12) consideram os preços dos produtos em geral na cidade como altos, um (1) considera médio e um (1) considera baixos. Sobre pedir descontos ou analisar melhor os preços antes de comprar, cinco (5) dizem não pesquisar antes comprar e nove (9) dizem que sim, analisam os preços antes de executarem as compras.
·         Entre os itens considerados como de necessidade básica (indispensáveis nas compras) pelos índios estão: arroz, feijão, açúcar, óleo, café, sabão, sabonete, sal, leite, carne, farinha, temperos, um afirmou a bebida alcoólica.
·         Sobre produtos que são considerados objetos de desejo por parte dos indígenas, a maioria citou moto e carro, televisão, geladeira, casa, armas também foram citadas, o único que afirmou não ter desejos de consumo, justificou que queria apenas um carro, mas não para uso pessoal e sim um que atendesse a comunidade.
·         Dos entrevistados, metade disse ter acesso à internet, na maioria das vezes o acesso é feito na escola da aldeia, depois é feito na cidade, a outra metade disse não acessar a internet. Dois (2) dos entrevistados afirmou já ter feitos compras através de catálogos e revistas, um pela internet e um (1) disse já ter feito compras através de catálogos e revistas, internet e também telefone.
·         Onze (11) disseram reaproveitar de algumas formas produtos adquiridos enquanto três (3) disseram que não fazem reaproveitamentos
·         Quatro afirmaram que suas crianças não consomem brinquedos, artigos infantis da cidade enquanto dez disseram que suas crianças consomem.
·         Nove entrevistados disseram não ser atraídos ou terem comprado produtos em função de propagandas, cinco (5) disseram que já compraram produtos vistos em propagandas, destes, dois (2) por meio de cartazes onde um deles citou também a internet, três (3) por meio da TV onde um deles também citou a rádio.

Sobre as habitações dos indígenas:
·         As quatorze (14) casas dos entrevistados são tradicionais, nativas, feitas de argila e cobertas com palhas. Foi observado que algumas têm a argila com acabamento melhor do que em outras.
·         Entre as habitações dos entrevistados há divisórias que variam entre duas (2) e seis (6), apenas uma casa dos entrevistados não têm divisórias. Os tamanhos variam de acordo com o número de indivíduos das famílias.
·         Sete (7) casas não possuem banheiro, seis (6) tem o banheiro na parte externa da habitação e apenas uma (1) tem o banheiro interno.
Bens domésticos em quantidades: (universo de 14 habitações)
·         Onze (11) casas tinham uma TV em cada uma, e somente em uma delas não tinha também uma antena parabólica. Em oito (8) habitações há em cada uma um (1) aparelho de DVD e em seis (6) há um (1) aparelho de rádio em cada uma. Em apenas uma das casas há dois (2) computadores.
·         Em cinco (5) das casas há fogão, em nenhuma há micro-ondas e em três (3) há outros eletrodomésticos de cozinha (liquidificador por exemplo). Cinco (5) das casas tem armário de cozinha.
·         Oito (8) das casas contam com camas, em cinco (5) casas há apenas uma cama, em uma das casas há duas (2) camas, uma das casas há três (3) camas e em outra há o número de quatro (4) camas.
·         Apenas três (3) das casas tem ventilador, duas (2) com um (1) ventilador cada e uma casa com dois (2) ventiladores. Somente em duas (2) casas há ferro de passar roupas e em três (3) das casas há guarda roupas.
·      Em sete (7) das casas há relógios de parede e em quatro (4) há estantes ou moveis para TV. Em apenas uma das casas há um (1) carro e uma (1) moto.

Observações gerais do campo (Aldeia São José)

As casas indígenas ficam numa distancia relativamente próxima uma das outras, não são separadas por limites, cercas, algumas poucas tem algum tipo horta no quintal e criação de animais como galinhas, há roças de subsistência que são um pouco afastadas das casas. Há quintais muito bem cuidados, limpos, enquanto há outros sujos de lixo (embalagens, sacos dos produtos comprados na cidade), mato ou folhas, há muitas arvores de grande e médio porte ao redor das casas.

Durante a visita, esta que foi no horário da tarde, a maioria dos índios estava e continuou dentro das casas e outras famílias, mais mulheres e crianças, ficaram sentados em bancos, troncos na parte externa das casas. Há uma unidade escolar na aldeia com uma nova e boa estrutura, há um campo de futebol que fica no centro da aldeia, usado para festas e rituais, no dia da visita estava acontecendo o encerramento da “corrida das toras”, uma das festividades dos apinayé.

Mesmo alguns demonstrando timidez e estranheza pelos visitantes, foram muito solícitos em participar das entrevistas, muitos apareceram para tentar vender seus artesanatos e alguns fizeram trocas com objetos dos visitantes, alguns dos estudantes foram pintados com tinta extraída de sementes locais, em traços característicos da cultura apinayé, em troca de bens ou dinheiro.