terça-feira, 3 de março de 2015

Cartas Para Amanhã. (2015-2018)

Luciana Sousa, 15 anos, estudante do 1º ano do ens. médio. Tem expectativas de desenvolver bem todo o ensino médio e se tornar professora no futuro. Enfatizou que isso depende dela agora e que corre atrás para que parte da carta seja um preludio. 

Mais um início de ano letivo, estudantes e professores regressam uns mais e outros menos empolgados com todo o ano que tem pela frente. Tempo que segundo Santo Agostinho é a imagem móvel da eternidade. O tempo, além de indissociável para vida/existência, é deveras importante para um amadurecer filosófico, seu entendimento e didatismo possível como eixo para diversas disciplinas, não somente da área de humanas. Só lembrarmos da teoria da relatividade para física...
Trabalhando o conteúdo “Introdução aos Estudos de História” nas turmas de 1º anos do ensino médio, diante de vários conceitos pertinentes a História como ciência ou como literatura, não há como entender a construção e o desenvolvimento do conhecimento histórico sem perceber e entender as várias concepções de tempo, sendo o “da alma” ou “do mundo” (Stº Agostinho, Aristóteles). 
O tempo histórico carece de análises que o enquadrem melhor como próprio da história e para isso, são necessárias abordagens filosóficas básicas como as iniciadas por Heráclito e Parmênides, sobre a fluidez e a transformação das matérias e do ser frente ao que chamamos de tempo. A partir deste eixo temático, o professor de História Dhiogo Rezende baseando-se em uma matéria de jornal sobre um professor de química que propôs uma atividade onde os estudantes deveriam escrever uma carta para eles mesmos, de modo que estas ficariam guardadas para serem entregues aos próprios docentes no futuro (distante), tais cartas foram entregues pela filha do professor que faleceu antes de completar a proposta, criou a atividade “Cartas Para Amanhã”.
Após aulas sobre o conceito e a importância da história, sobre o fato de todos pertencerem à história como sujeitos, as fontes históricas no trabalho dos historiadores e sobre o tempo histórico, foi pedido que os estudantes elaborassem um texto dissertativo sobre suas impressões diante da construção de suas próprias histórias, como indivíduos parte de um coletivo, a família, a comunidade, o país, de modo que eles relacionassem esse comando inicial com as suas percepções de passado, presente e futuro, deixando claro para eles que apesar da história não contar com o futuro em suas análises, como também não se pode pensar na história somente no passado, distante do presente, é sempre humano ter expectativas sobre o futuro, sobre o amanhã. Por isso a importância do conhecimento histórico e da relação desta com o tempo.
As cartas foram feitas e entregues com empolgação, pois a atividade gerou aquilo que justamente está previsto como seu objetivo, a reflexão sobre a fluidez, mudança, transformação e ao mesmo tempo permanência da vida, da história, tornando o tempo, um jogo onde não se sabe ao certo quem perde e quem ganha, mas com certeza perde muito quem não se arrisca e não se prepara para jogar. As tais cartas serão entregues em três anos, quando eles estiverem em um ano importante de suas vidas, o 3º ano do ensino médio, no ano de 2018.
Alguns demonstraram mais expectativas, outros menos sobre o impacto que aquelas palavras de um "presente que já é passado" terão, como se acomodarão com o que virá no futuro de cada um. O importante é que esta atividade, assim como o tempo que não nasceu e morreu, vai existir não só por três anos, estará presente em cada um na construção de suas histórias, sem prazos de validade, desde que estas tenham importância. Um trabalho pedagógico que no momento da escrita da carta, até o dia em que ela será entregue aos seus donos e donas, ficará viva, mesmo que para alguns fique serena e parada, quando se vive distraindo a vida com o próprio viver, desapegado de reflexões um pouco mais densas sobre a vida e o tempo diante das instantaneidades da vida moderna,  tão características da juventude do século XXI apresentam. Essas cartas ainda darão muito o que falar... no encontro destes jovens com eles mesmos em 2018, em suas mudanças e permanências na vazão dos rios de suas histórias.