quarta-feira, 24 de abril de 2013

Professores Indígenas na Paralisação Nacional da Educação em Tocantinópolis - TO


Dhiogo Rezende para o educAÇÃO BR

De 23 a 25 de abril, professores de todo país paralisam suas atividades nas escolas para reivindicar 100% dos royalties do petróleo e 10% do PIB para educação, respeito ao pagamento do piso salarial, valorização e revisões das jornadas, dos planos de cargos, carreira e remuneração, pela aplicação do Plano Nacional de Educação, profissionalização e formação dos demais funcionários da educação.

Parados nas atividades escolares, mas em intenso movimento nas ruas e praças, os educadores (nem sempre a maioria deles) mostram a cara e erguem suas vozes de protesto aos ouvidos dos governantes e  de toda sociedade brasileira, ao menos uma vez por ano, lembrar e refletir sobre os descasos e desmandos na educação pública, que sendo deficitária com a categoria docente, passa a não ser um problema exclusivo dos professores e sim, de toda nação.

“Um país se faz com homens e livros” e um país sério se faz com homens sérios que levem a educação a sério, mas infelizmente, é histórica a falta de investimentos e o descuido dos governos com nossa educação, transformada em sucata. É urgente a participação, não apenas dos professores, mas de estudantes, pais, toda a sociedade na luta incansável de todos os dias do ano, por uma educação de qualidade real e não essa que estampa falsas propagandas nas mídias pagas pelos governos com dinheiro público. 
Mesmo que ainda não exista uma unidade nacional na luta pelas melhorias na educação pública brasileira, podemos notar um nítido avanço com a participação das minorias como a indígena na linha de frente dos protestos. Dezenas de índios apinajés, entre eles, seus professores indígenas, alguns com ensino superior como Júlio Apinajé, formado em Educação Indígena pela Universidade Federal de Goiás, saíram das aldeias para junto aos professores do município de Tocantinópolis, levarem a público que a educação em todos os níveis, não está caminhando congruente com a situação econômica que vive o Brasil.
Prof. Júlio Apinajé e Prof. Cleber Borges. Presidente do SINTET - Tocantinópolis
Dentro das falas indígenas, ficou exposta a situação de abandono e exclusão que passa a educação indígena do Estado do Tocantins, nos remetendo a uma problemática que deve ser nacional. Os professores índios trabalham como os professores não indígenas e mesmo assim não recebem nem o piso salarial que atualmente é R$ 1.567,00, além disso, mesmo os que são efetivos do estado, não possuem e não são regidos pelo Plano de Cargos e Carreira dos demais educadores tocantinenses lotados no sistema estadual de ensino.

Os apinajés nas seis aldeias que compreendem o município de Tocantinópolis, são cerca de 800 habitantes, o centro educacional e diretor das demais escolas fica na aldeia Mariazinha. Há um desrespeito enorme separando e excluindo os professores e a educação indígena dos parâmetros básicos e sobre protestos da educação nacional, uma política de governo ainda mais excludente, pois a educação indígena nem ao menos esta equiparada a tão maltratada educação regular.
Os apinajés relataram que nas escolas indígenas há falta de estrutura, de ônibus escolares próprios para as estradas das aldeias, falta de funcionários como vigias, merendeiras e ASG’s, pedindo até um concurso para várias áreas, falta de laboratórios de informática com internet, os computadores que foram entregues, mas que por falta de uso e profissionais especializados se encontram obsoletos, falta de material escolar e pedagógico, inexistência de quadras esportivas, atrasos na merenda escolar.

Ainda constou na reivindicação dos índios, que o calendário escolar indígena não tem início e fim como o calendário regular do estado, situação que deixa todos os anos as comunidades indígenas com lacunas e atrasos no ano letivo. Os professores apinajés, em suas falas são exemplos de como anda nosso sistema escolar, que é precário na educação pública da maioria e absurdamente falho com a educação pública das minorias.

Todas as reivindicações indígenas foram recebidas pelo SINTET – Tocantinópolis, na pessoa do Presidente Cleber Borges, que por sinal são históricas, ao menos no que se refere à educação indígena na região do Bico do Papagaio, por se tratar da primeira vez que representantes, e professores indígenas aderiram à paralisação nacional da educação. Júlio Apinajé, diretor da Escola Indígena Tekator (escola matriz, aldeia Mariazinha), mostrou grande consciência de classe em seus discursos politizados, disse: a participação dos índios na greve nacional da educação serve tanto para melhorias na educação indígena como para a visibilidade das questões indígenas e o despertar do devido respeito por parte da sociedade não indígena.