terça-feira, 19 de março de 2013

Bárbara Educação - Te pego na saída!

Em menos de duas semanas, duas brigas de estudantes são marcadas na saída da escola em Tocantinópolis - TO. Está virando ou já é moda desde muito, muito tempo na nossa história?

Do educAÇÃO BR  

Vídeo da briga: http://www.facebook.com/photo.php?v=597498673612237
Fonte:  http://www.tocnoticias.com.br/ler_noticia.php?idnoticia=3807

O Império Romano forte e centralizado, por séculos dominou, explorou, expandiu-se pela Europa, África e Ásia, até que vários golpes lhes foram desferidos. Crises econômicas e políticas, corrupção, conspirações, fragmentações do poder e um poderoso golpe mortal: as invasões de povos bárbaros que derrubaram esse gigante da antiguidade no século V d.C. Os romanos no ar do seu etnocentrismo que encontrava sempre no diferente uma oportunidade e quase uma obrigação de transformá-lo a sua semelhança, instaurava-se a “romanização” dos conquistados.

Até que povos ameaçadores da sua supremacia mostraram-se resistentes e ofensivos, estes povos, diferentes como qualquer outro aos olhos dos filhos de Rômulo e Remo, em especial, chamados de bárbaros pela boca de Roma, além de não terem a cultura romana, não falarem latim, eram destemidos e insistentes com seus saques, incêndios, matança e na conclusão do fim deste grandioso e famigerado império clássico da nossa história antiga.

As palavras com seu poder eternizam-se pelo tempo, o bárbaro passou a ser sinônimo de incivilizado, bruto, violento, independente da alcunha original, seja godo, visigodo, germânico, franco, ou “vândalo”. A barbarie será conceituada relativamente aos seus usuários e na definição do que é bárbaro ou não, estará se pesando as concepções das características que forjaram a palavra. Independente do observador, a violência será um alicerce comum na definição do que é bárbaro.

Entretanto, a violência dependendo do contexto, pode ser mais ou menos, aceitável ou inaceitável, mas ainda sim violência, essa ponderação trará ou não o termo à tona. O entendimento que violência é violência e ponto final será uma dificil tarefa da humanidade, acostumada com "tapinhas que não doem". Por exemplo, quem eram os antigos romanos que se divertiam com a carnificina entre gladiadores e feras no Coliseu para definir qualquer povo como bárbaro? A barbaridade está com quem?

De fato, os romanos não forjaram juntamente ao emprego do nome as características do que hoje conhecemos como peculiares do que é "bárbaro" no século V, estas foram gradualmente criadas e absorvidas na dor e no fracasso de um imperio decadente que ao menos nos sentimentos etnológicos queria ferir os povos causadores da sua sucumbência. O tempo passou, o cristianismo se fortaleceu, as mais variadas religiões se estabeleceram com suas doutrinas de respeito e harmonia na convivência humana em convergência (até certos pontos) e a educação que sempre foi égide nas civilizações clássicas, mesmo sofrendo com as mazelas da idade média, não exclusivas desta era, a educação seguiu atacada de forma sempre atualizada, todos os dias, mas pela sua constituição, sempre foi idealizada e objeto de realização da sociedade consciente.

A singular cultura humana, desde o paleolítico, existe e se perpetua pela aprendizagem, somos antes de qualquer coisa - aprendizes. Na antiguidade, a escola surgiu na tutela de pensadores, filósofos que sabiam a necessidade de institucionalizar e registrar materialmente além de mentalmente o saber ou a sua busca. A civilização emerge dessa engrenagem, da capacidade de aprender e de organização humana, sendo o controle dos meios de produção e reprodução do saber diretamente ligado às injustiças, aos desmandos, as desigualdades e ao afundamento da humanidade, assim sendo, a educação como um marco equalizador do nosso estágio de civilidade, o seu acesso, desde sempre é a diferença entre a opressão e o lutar do oprimido que bem sabe as razões da sua escravidão e por isso sabe que não a quer, a educação é o sistema, a máquina principal das transformações positivas na história da humanidade.

No correr do século XXI, ao depararmos com cenas reais, às vezes muito mais chocantes do que a ficção mais terrível, justamente por assim não serem, são reais e estão em qualquer esquina, remetemos logo a situação de barbárie que nos encontramos e que antes parecia um passado das páginas dos livros de história. Torcidas que se matam nos estádios dependendo ou não do placar, as violências decorrentes do trânsito, das vaidades misturadas ao álcool, da intolerância religiosa, sexual, de gênero, distinções absurdas de pessoas na fundamentação da "religião da guerra", feitas por fanáticos donos das verdades de Deus e da terra, que propagam o ódio que gera a ignorância (não necessariamente nessa ordem), crianças e adolescentes que no sair da escola adentram na “guerra do fogo”, na sua versão sem sentido, sem objetivo, sem causas e com muitas consequências.

Jovens que vão para a escola e de lá saem sem saber português, matemática, história, geografia, ler e escrever direito, sem saber pensar na vida e na humanidade, inconscientes de si e dos outros, entregando-se aos nossos instintos mais primitivos, sendo dominados por eles e servindo de espetáculo para deleite de dezenas que como eles se desumanizam a cada grito, a cada pulo, a cada acesso neste futuro digital das redes que apressadas tecem uma conexão com o passado, a passos largos que nos levam de volta às cavernas pós históricas da involução. 







segunda-feira, 11 de março de 2013

Sala de Aula. O professor de história na abordagem do tema religião.

"na escola, quanto mais diverso for o olhar religioso, menos proselitismo, menos ataques, menos defesas, mais conhecimento."  

Do educAÇÃO BR


Entendendo nossa história, entenderemos nossa formação etnocêntrica, aprendemos a julgar pelas tutelas de quem historicamente nos subjugou no nosso passado quinhentista colonial, acostumamos a olhar o diferente não apenas como o que ele é de fato, diferente. Vamos além, é diferentemente feio, inferior, pobre, errado, subversivo, na contramão do progresso, uma pedra no nosso caminho. O diferente sempre esteve na nossa frente, "nenhum ser humano é uma ilha", o contato é tão natural quanto o estranhamento gerado por ele, mas não podemos conceber que o natural também seja um humano destruir o outro por motivações analiticamente banais, isto se faz inversamente as nossas capacidades, as faculdades humanas que nos tornam únicos diante de todos os animais, é só atentar para o fato que dentre todas as espécies, somos a única que se autodestrói, então somos tão ou mais animais que os outros animais?

Éramos mais humanos no sentido racional e de solidariedade quando o sapiens ainda não nos tinha chegado como alcunha? Não, nem assim, nossos ancestrais poderiam ser mais harmônicos internamente em seus grupos, mas a competição pela sobrevivência, pelo domínio do fogo, depois pelas terras agricultáveis era massacrante, o sujar as mãos com sangue da mesma espécie já estava escrito nas nossas primeiras páginas, sempre fomos conquistadores uns dos outros, do corpo ou da mente. Seria a versão evolucionista, por tanto não teológica da expulsão do paraiso e depois Caim matou Abel?

Antes de falar do espiritual, o professor precisa centrar os estudantes da constituição humana, primeiro, quem é este bicho-homem? Depois, o que é a religião? A religião não criou o homem, este é que a fez, e a construiu em cima das suas necessidades, do processo de significação do que para ele tem significado, somos fruto da nossa capacidade de ser o que precisamos ser. Estaríamos a partir de então matando o conceito de religião e a sua importância?

Logicamente que este tipo de abordagem baterá de frente com tudo que lhes foi dito desde sempre, há explicações religiosas, teológicas para a criação, aparecemos então como criatura, e se assim somos, temos então um criador – DEUS, quem veio primeiro, o ovo ou galinha? Entretanto é neste choque que pode residir uma boa aula e isenta de doutrinações, de enfraquecimento ou recrudescimento da fé, ou da razão cientifica. As bases antes divididas, na aula, na escola composta pelo pluralismo cultural, estas dicotomias devem assentar o mesmo banco para depois os próprios estudantes, partindo de suas construções e formações de berço, possam falar, debater, discutir, criticar, se enganar, se acertar segundo seus juízos.

- Professor, o senhor acredita em Deus?
O professor de história, filosofia, ou sociologia carrega a peculiaridade da capa de ateu, da roupa de não cristão, podem ser, podem não ser, mas a imagem, os estereótipos já estão postos pelo mesmo processo que consta na introdução deste texto, diante deste etnocentrismo nato, é que mora ainda mais a necessidade deste professor desnudar a sala de vícios de pensamentos apologéticos ou repressores do livre pensar, é preciso o entendimento de quê religioso ou não, o processo de conhecimento, de qualquer área filosófica ou da ciência, das religiões, precisa de certo desarmamento para ao menos haver a escuta primeiramente que a fala e seus juízos verbalizados para desconstruções ou construções, transformando a sala de aula em um ringue entre os que têm religião e os que não têm, mandando a mediação do professor para escanteio.

Conhecendo-se o humano, conhece-se a religião e as ideias de Deus em toda sua pluralidade, cada estudante deve aprender a conhecer sem querer impor o que os outros devem conhecer. Ninguém deve conhecer necessariamente como o outro, ou o que o outro conhece. O humano inconcluso, fraco, passivo de erros, falho, animal, deve ser conhecido pelos discentes, nada de “super-homens” da ciência ou da religião, o demasiado humano deve ser visto a olho nu.

Ao professor cabe empinar essa pipa, deixá-la no céu visível a todos, a linha também deve ser passada a todos os estudantes, na sua hora, na sua ideia, na sua mente, ela vai para onde eles quiserem, o importante é não ser o dono da pipa, da verdade.

Aprendendo a não julgar, ou a julgar melhor, com respeito e análise coerente e ética, estaremos de fato introduzindo na escola os pilares das religiões como um todo, já estará se ensinando religião como área de conhecimento e usando em loco uma de suas práticas, já que a mesma foi feita pelos homens e não por Deus, a religião filha de seu criador é naturalmente falha, mas carregada de acertos e caminhos harmoniosos, acontecendo isto na sala, não estará se fazendo necessariamente um ato religioso estrito, pois não se estará “religando” nenhuma criatura a algum criador, não se estará dando forma a isto, simplesmente a humanidade está sendo processada, a religião é tão humana como pode ser divina, e na escola, quanto mais diverso for o olhar religioso, menos proselitismo, menos ataques, menos defesas, mais conhecimento.