domingo, 11 de dezembro de 2011

CONSELHO DE CLASSE. Aprovando a Reprovação.


A nossa educação é composta por sistemas que foram criados para aprovar em quantidade, mas sem qualidade.

Foto da WEB. Ilustração.


Do educação BR

As vésperas de mais um fim de ano letivo, se repetem fatos que pitam a feia imagem da nossa educação, principalmente a pública. Estudantes que não fizeram jus a alcunha durante todo o ano, nas duas últimas semanas resolvem se transformar, ficam mais comportados e fazem tudo que os professores pedem, e evidentemente que não podem aprender a soma de conhecimento de meses e meses anteriores.

Dado o caos secular que é a nossa educação, o faz de conta que se fez o ano inteiro (professores fingiram que ensinaram e estudantes fingiram que aprenderam) fica mais real no último bimestre. O medo de reprovar é o de ficar para trás em relação aos outros colegas, não sabem (ou sabem) que já estão atrás há muito tempo, os aprovados menos atrás do que os reprovados ou não necessariamente nessa ordem. Fingir que está tudo certo para os dois lados, professores-estudantes, pode evitar dores na consciência e noites mal dormidas, efeitos colaterais mais presentes nos mestres evidentemente.

A nossa educação é composta por sistemas que foram criados para aprovar em quantidade, mas sem qualidade, em alguns, o estudante que ficar reprovado em até três disciplinas pode passar no conselho tranquilamente, se o estudante ficar em apenas uma matéria, independente de sua nota, muitas escolas entendem que é quase impossível de ele ficar retido no conselho, principalmente quando esta disciplina é a que o corpo escolar julga como inferior ou menos necessária, como nos casos de artes, religião, educação física, línguas.

Alguns conselhos chegam a ser hilários de um certo ponto de vista, todo tipo de situação pode ser usada para a não reprovação de um estudante, doenças fantasiosas como o fato verídico de uma menina ter sua avaliação mais relaxada por ter segundo a mãe, “menstruado de mais” no período de provas, ou se tiverem certas características ou situações sociais são tratados como especiais e na prática não podem ser reprovados, estudantes pobres que tem muitos irmãos ou moram longe (zona rural), que trabalham, ou meninas que estão no início da gravidez ou bem depois da licença maternidade são exemplos.

Ainda acontece de a reprovação, de um número limite, claro, para não macular a unidade escolar perante o sistema, ser por critérios não técnicos quanto ao desempenho dos estudantes nas aulas, pode variar desde a sua postura ou aparência até seu grau de antipatia ou não parentesco com o corpo docente e funcionários da escola ou o professor na sua avaliação, tem que decidir entre tantos candidatos a reprovação, os casos que ele julgar como os piores. 

No ano seguinte, estes alunos riem dos professores, principalmente daqueles que falam em reprovação para angariar mais compromisso por parte do alunado. Muitos não entendem quase nada dos conteúdos escolares ministrados, no entanto, entendem muito bem que mesmo assim, ele pode ser aprovado sem aprender o que pode e o que deve, assim passam a maior parte do ano literalmente brincando, basta ter frequência, essa que além da aprovação, pode render a continuidade do recebimento de bolsas assistenciais do governo.

O resultado é devastador na qualidade, estudantes de ensino médio que não sabem ler e escrever direito, que não tem noções básicas das disciplinas das séries que foram aprovados, ao receberem novos ou reformulados conteúdos das séries seguintes, ficam cegos em um verdadeiro tiroteio de novas informações, piorado com a situação de que o conteúdo que era para ser antigo, na verdade é muito novo para eles também.

A ponta hierárquica do sistema está nas secretárias de educação que não querem índices ruins, os resultados reais das avaliações não podem aparecer, pois estes seriam desastrosos para fins eleitorais e manutenção das gestões no poder. A ordem passa do cume da pirâmide para as diretorias regionais que a empurram para as direções das escolas que acabam passando a bomba com o pavio bem curto para as mãos dos nossos professores.

Muitos dos nossos mestres não conseguem lidar com a pressão, direções e coordenações pedagógicas chegam a fazer terrorismo psicológico, ameaçando, dizendo que ordens superiores aparecerão na escola para confrontar o professor e suas avaliações quanto às notas baixas expedidas, assim os docentes se veem perdidos, no fim resta o professor sujar suas mãos, seu diploma e aprovar estudantes as dezenas sem condições de seguirem adiante nas próximas séries.

O pior é que esta maquiagem da aprovação de 85%, 90% ou mais, não é muito boa, não resiste aos jatos d’água fria das avaliações externas como a Prova Brasil e o ENEM, as cores borram e saem por completo, estudantes que tiram somente notas altas na sua escola, tem um desempenho horrível nestas provas externas, vemos que os sistemas de educação pública têm suas escolas com os piores resultados no subsolo dos rankings, enquanto na ponta aparecem escolas (na maioria particulares) onde quem não alcança os níveis não é aprovado, e sem choro, nem vela só passa quem sabe. 

Sendo assim, a culpa pode cair sobre os professores, os galhos fracos do sistema, pois são eles que estão nas salas de aula, o sistema de coação das secretarias fica escondido nesta fase, o professor é que surge como vilão, como o "único elemento" que não está fazendo seu trabalho direito.