domingo, 8 de junho de 2014

Educação e a Copa padrões FIFA. Dá pra ter as duas?

#Não vai ter COPA? Sempre teremos copa, tomara que sempre eleições. Democracia real, cidadania, consciência, educação de qualidade, já passou da hora de termos também.
Do educAÇÃO BR. 

A mesma pessoa que disse que a “seleção brasileira é a pátria de chuteiras” também disse que “das coisas menos importantes o futebol é a mais importante”. O autor destas frases é tido como um dos mais influentes dramaturgos do país, um dos nossos gênios das letras. Nelson Rodrigues, jornalista e escritor, era apaixonado por futebol, como 9,9 entre 10 brasileiros.

Quando o Brasil foi tricampeão em 70 no México, éramos 90 milhões em ação, empurrando o Brasil, salve a seleção. Nesta década o país registrava taxas de quase 30% de analfabetismo da população (IBGE. PNAD. 1977). Somos mais de 200 milhões agora, de lá para cá, ganhamos mais dois títulos mundiais (1994 e 2002), podemos ser hexa na nossa segunda copa em casa.

Segundo a (PNAD. 2011), a taxa de analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais no Brasil estava em 8,6%, totalizando 12,9 milhões de brasileiros, o Brasil ocupava a 8ª posição entre os dez países com maior número de analfabetos do mundo. Quando se trata de analfabetismo, refere-se a pessoas que não sabem escrever ou ler um bilhete simples, entre os considerados “alfabetizados” no Brasil, temos índices altíssimos de pessoas que até sabem ler e escrever, mas não desenvolvem raciocínios simples sobre conteúdos igualmente simples.

Segundo o Relatório de Monitoramento Global Educação para Todos. Nenhum dos seis objetivos estabelecidos pela ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) será cumprido globalmente até 2015. 22% dos alunos brasileiros saem da escola sem capacidades básicas de leitura e 39% não têm conhecimentos mínimos de matemática como as quatro operações.

Em ranking, divulgado em 2012 pela Pearson Internacional, O Brasil ficou na penúltima posição em um índice comparativo de desempenho educacional feito com dados de 40 países. Avançamos muito da década de 30 para cá, década em que o ensino primário gratuito começou a ser instituído na Constituição de 1934. De 70 em diante, nossos índices melhoraram, mas não são suficientes em número e muito menos em qualidade. O que acaba nos deixando atrás de dezenas de países que trataram da questão de forma diferente.

Na Copa da educação, estamos sempre na lanterninha, parece que há uma inversão, os países que estão em primeiro lugar na educação, Finlândia, Coréia do Sul, não tem tradição no jogo de bola mais famoso do mundo, enquanto o Brasil é um gigante do futebol mundial. Opa! Mas não é bem assim, existem países que tem bons níveis educacionais e são competitivos com suas seleções como a Alemanha, Itália, França, Holanda, Espanha. Os E.U.A são pernas de pau (exceto no feminino), mas com a China papam as medalhas de ouro das Olimpíadas.

Estes países, não são tão vitoriosos no futebol como o Brasil, mas fazem funcionar melhor seu sistema, não investem no futebol, investem na educação global de suas nações, o que insere a educação física, esportiva, a cultura corporal e mental que geram atletas que após a curta carreira de esportistas representando seus países, podem desenvolver outras atividades, dentro ou fora do esporte, pois a maioria é de estudantes-atletas ou vice e versa, a exemplo da UCLA (Los Angeles) que cria grande parte dos medalhistas olímpicos.

Sempre ouvimos, o brasileiro é antes de tudo um forte, é capaz, não desiste nunca, temos muitos talentos nas artes, no esporte, mas parece que os próprios brasileiros esquecem-se disso e assim não conseguem fazer os representantes nos poderes legislativo e executivo entender que existe material humano, mas que este necessita de lapidação, um povo carente de seus serviços públicos básicos, anestesiados e enclausurados em sua própria ignorância secular, sofrendo de inanição política. 

A partir de 70, o Brasil viveu nebulosamente o auge dos anos de chumbo (1964-1985), a Copa do México e a conquista da taça roubada foram usadas propagandisticamente na luta dos militares contra a subversão dos grupos armados que queriam um país diferente. O povo embebido pela magia do futebol mordia a isca do “ame-o ou deixe-o”. Amar um país tricampeão mundial não era difícil, a seleção canarinho era a boa pátria, um regime torturador, assassino, que ocultava corpos em nome da ordem e do progresso de um país pra frente não passava de histórias ruins de ouvir ou falsas verdades. Melhor e confortável era se ligar na Copa e no Pelé.

Dessa vez a copa não será na Suécia (1958), Chile (1962) no México (1970), nos Estados Unidos (1994), nem na Coréia ou Japão (2002), destes países em que o Brasil sagrou-se campeão, só o México está atrás do Brasil no último ranking da educação, de 40 países avaliados, ficamos em 38º, na frente de México e Indonésia (BBC BRASIL. 2014). Assistiremos aos jogos em casa, pela TV, ingresso ficou para turista e para brasileiros que podem, os mais de 30 bilhões (nossos) "emprestados" para a "festa do futebol" pelo governo não deram cadeiras cativas aos mais humildes da nação. A Copa mais cara da história também dará o maior lucro para FIFA, instituição privada com sede na Suíça, contemplada com a inédita isenção total de impostos, enquanto os brasileiros normais, trabalham cinco meses por ano só para pagar impostos elevadíssimos que fazem o Brasil ser também um campeão tributário mundial.

Sabemos que essa copa que nos custou muito caro, podendo custar muito mais, tem obras prometidas há seis anos que só ficarão prontas (se ficarem) em 2015, 16, 17... Já estamos acostumados, o que são atrasos ou falhas ali acolá para obras padrão FIFA, diante das escolas, hospitais, transportes, estradas padrão Brasil?

O Brasil pode sim ser HEXA, o povo vai ficar feliz, felizes o povo, as grandes empresas, a FIFA, os milionários jogadores residentes na Europa. Se vivêssemos o famoso clima de copa nas vésperas das provas bimestrais de nossos filhos, nas provas do ENEM, talvez fossemos campeões de algo que nos levaria a lugares bem mais altos, cresceríamos com isso e para isso. Já repararam quanto da porcentagem da programação de tudo (TV, rádio, internet) é sobre a copa desde meses atrás? É muita pressão para que entremos nesse clima. 

A educação de qualidade pode nos dar conquistas não efêmeras, as copas assim como as eleições são de 4 em 4 anos, poderíamos pensar na segunda com seriedade e com o mesmo amor pelo país que temos pela seleção, desde que ela ganhe, com isso somos exigentes e chatos, já com nossos parlamentares e as bolas fora que eles dão...

Não precisamos deixar de ser campeões no futebol, não precisamos esterilizar este elemento de nossa identidade, mas não temos que continuar mandando a mensagem clara e altamente absorvível para nossos jovens, de que a educação, a escola é secundária, que na tradução juvenil quer dizer que ser NEYMAR é o sonho a ser buscado, e se não alcançado como em 99% das vezes, vale continuar reproduzindo esse tipo de visão de sucesso, de Brasil para as próximas gerações. Precisamos neymalizar, fredalizar ou daviluizar nossos professores, policiais (sérios e honestos), médicos, enfermeiros, motoristas, etc. #Não vai ter COPA? Sempre teremos copa, tomara que sempre eleições. Democracia real, cidadania, consciência, educação de qualidade, já passou da hora de termos também.

Referências: