quarta-feira, 19 de março de 2014

Professores nas ruas. Governo, a culpa é sua! CASO TOCANTINS.

Do EducaAÇÃO BR. (Fotos e texto de Dhiogo Rezende)

Já faz um bom tempo que este grito, bradado pelos professores do Brasil inteiro vem ecoando, cada vez mais alto e bom som. Há alguns anos também que órgãos e entidades como a CNTE organizam e apoiam eventos e movimentos como a Paralisação Nacional da Educação, reunindo professores de todas as regiões do país na luta por qualidade na educação pública. Na pauta nacional, estão além da valorização da carreira docente, o que passa pelo respeito à lei do piso, ainda descumprida em vários sistemas municipais e estaduais de educação, 10% do PIB para educação, uso dos royalties do petróleo como investimento no setor e a votação imediata do Plano Nacional de Educação, já bem atrasado, assim como suas metas.

No embalo da paralisação (17, 18 e 19 de março de 2014) surgem os primeiros movimentos de greve por tempo indeterminado no país.

No dia 18 de março, os educadores do Tocantins, em estado de greve desde novembro de 2013, com uma extensa pauta de reivindicações que se arrasta em negociações com a atual gestão do governo do Estado desde a sua posse, quatro anos atrás, deflagraram greve por tempo indeterminado.

Na assembleia geral dos professores da rede estadual do Tocantins, organizada pelo SINTET em Palmas, educadores de todas as regiões do Estado compareceram e em muitas das falas ao microfone, era evidente o descontentamento e o total desgaste da categoria com o atual governo. Depois de inúmeras reuniões desmarcadas pela gestão, somente no dia 17, anterior a assembleia, o governo chamou o sindicato para conversar e mais uma vez fez promessas de empenho, e mesmo assim, com ressalvas sobre pautas obstruídas desde 2012. O sindicato pôs em assembleia a postura de "banho Maria" do governo, sendo totalmente repelida pelos professores. 
Por unanimidade,  a greve foi deflagrada. 
Pautas antigas foram mais uma vez fortemente revividas, como a equiparação salarial entre professores normalistas e os da educação básica. Os primeiros realizam o mesmo trabalho em sala de aula que os demais professores e recebem salários bem menores, tudo por uma questão de nomenclatura do cargo. Constando com destaque na pauta a aprovação do plano de cargos e carreiras com revisões que atendam e valorizem os profissionais, o pagamento da data base que há tempos é motivo de angustia dos professores quanto a sua saúde financeira, que tem seus salários engolidos pela inflação ano a ano. 

A vergonhosa realidade na falta de repasses financeiros as escolas que desde 2013 enfrentam problemas com credores em suas dividas, sem verba para atividades básicas, de material didático até a falta de merenda, contas de água e energia atrasadas e com riscos de cortes.
Presidente da Regional de Tocantinópolis, Cléber Borges. Regional que conta com 100% das escolas estaduais paradas.
Calotes do governo!
O descaso com mais de 400 professores contratados (e suas famílias) que desde o ano passado não recebem seus acertos (até antes da paralisação), já que é prática do governo demiti-los antes do ano letivo acabar e readmiti-los depois que as aulas iniciam, o que causa transtornos nas escolas e prejuízo aos estudantes, tudo para diminuir custos com 13%, férias, etc, como também não receberam ainda o mês de fevereiro, tendo previsão de pagamento só em abril ou maio.

Situações atestadoras de uma realidade que contrasta com as propagandas do governo, que mostram em cores e tons vibrantes, que a educação tocantinense avança firme e forte, "efeitos pirotécnicos" que sempre tendem a aumentar em anos eleitorais.

Politicagem com a educação e assalto a previdência dos trabalhadores.

Somadas todas as reivindicações que amargam a educação no Tocantins, sendo motivo de tristeza pelos que dela dependem e a fazem no cotidiano das escolas, há uma que infelizmente faz parte de todo o nosso sistema político nacional. É também motivo de luta, a eleição de diretores e o fim da intervenção política e partidária nas escolas, onde políticos indicam quem entra e quem sai das unidades, visando claramente conchavos e acordos políticos-eleitorais em detrimento da qualidade de ensino e aprendizagem. Política (gem) que apodrece as instituições e lesa os direitos dos trabalhadores. 

Sendo um dos pontos mais discutidos e temidos pelos professores, principalmente aqueles que estão prestes a se aposentar, a falência do sistema previdenciário dos funcionários públicos do Tocantins (IGEPREV-TO), que segundo apurações preliminares, está com um rombo de mais de 150 milhões de reais. Fato que ainda não é muito sabido pelos tocantinenses e nem debatido entre os deputados na câmara estadual. Só agora, por pressões do Sindicato dos professores, sondam, ainda sem muita definição, a instalação de uma CPI na casa. 

Professores saem do sol e do calor, costumeiro em seus ambientes de trabalho, e ocupam a refrigerada Secretaria de Educação. 
Dentro da SEDUC - TO. Na frente do gabinete da secretária trancado, o Presidente do SINTET, José Roque e a multidão de educadores. 
Assim, além de tudo, ainda mais essa, para os professores que adoecem ano após ano neste árduo trabalho de educar os jovens deste país, terem tantas dificuldades para se aposentarem, e a sua sobrevivência depois de 30, 35 anos de serviços prestados terem essa tamanha ameaça de não terem sua aposentadoria integral, fruto dos seus anos de contribuição, dinheiro do trabalhador que é usado inescrupulosamente por aqueles que em épocas de campanha, na TV, em rádios, em jornais e papeis bonitos, esbravejam que são AMIGOS DO POVO, preocupados com os professores e a educação.

Assim, faz-se a pergunta, professores nas ruas, ao invés de estarem em salas de aula trabalhando dignamente pelo futuro de milhões de jovens, é ou não é culpa daqueles que administram este país?
 
Aparelho Repressor
Enquanto o trio elétrico estava posicionado em frente a SEDUC, centenas de professores expostos ao sol escaldante de Palmas, se concentravam na entrada do prédio público para ouvir e falar as mazelas da educação e de suas profissões, um fotografo surge de uma das janelas da secretaria, focava sua câmera estrategicamente nos lideres da manifestação. Alguns sindicalistas mais experientes, dizem que esta prática é antiga, as fotos dos lideres são depois analisadas para possíveis identificações, para que estas lideranças sejam incluídas em uma "lista negra" do Estado.

Apoio dos estudantes a greve de seus professores.
Estudante secundarista de Palmas, junta-se aos professores e vestindo a camisa "Operação: Respeito ao Educador", desabafa e critica a forma com a qual sua escola e a educação do seu Estado é tratada pelos governantes.