domingo, 20 de março de 2016

Códigos de classes - "professorzinho" ou "grande bosta".

Professor atingido no olho pela PM do Paraná em greve da categoria. 2015.
Chamo de código certos adjetivos, imagens, figurações, termos que são sacados por classes e grupos em disputa. Em tempos bélicos no cenário político atual, estamos cotidianamente no tiroteio polarizado e maniqueísta, entre "petralhas" e "coxinhas", como em toda boa dicotomia, um existe em função do outro, um é o que o outro não é, diferenças que são produzidas nas relações de poder, entre os diferentes.

As ideologias reinam e a realidade assiste os adjetivos e todo o sistema simbólico que eles carregam, que divididos recaem sobre as devidas partes. Essa díade, "petralha e coxinha", retroalimentada por outra, "esquerda e direita", tão fugidia de coerências, se faz prejuízo geral. Pois não vejo vantagens do ponto de vista político, de discussão de um país que se queira melhor, quando este é inconsistentemente loteado entre "pobres" e "ricos", "bandidos e heróis", "intelectuais e analfabetos", "São Paulo e Nordeste", Cuba e Brasil (para gosto do Tio Sam ou de Simon Bolívar).

Tudo isso soa muito falso, nada pode ser só cara ou coroa, somos ingênuos de acreditar que bandidos e heróis estão usando cores, fantasias que os distinguem como nos filmes? Inclusive a ponto de assistirmos bandidos virando heróis e heróis virando bandidos, a Liga da Justiça louca para lançar um dos seus como candidato em 2018. Um Brasil real se esconde atrás de tudo isso, ao mesmo tempo que se mostra pobre no grau de politização da população.

Acredite, a grande mídia, de acordo com seus interesses, não pega nessa pena (teclado) sozinha. Nós, usuários de face e whats app, por vezes atuamos nesse jogo, sem querer querendo, ou não. Nas redes sociais vemos todos os dias os times entrarem em campo, apoiado por torcidas inflamadas. Os pobres usam vermelho e a direita veste Prada? O universo é tão aristotélico assim, cada coisa em cada lugar e assim sempre será?

Evidente que podemos enxergar maiorias, minorias, pois elas são reais, os pobres e ricos existem e convivem, há dominantes e dominados. A questão é se vão se matar ou não, nas ruas por conta desse filme em cartaz, estrelando os de sempre, governo e oposição, eleição após eleição. Não que não haja luta, mas briga boa numa democracia, é a que até os feridos no final saem ganhando, e embora de lados opostos, os diferentes saibam pelo quê estão lutando.

De todos os códigos, penso que um é derradeiro, profundo e visceral, para entendermos essa crise toda, é o código "professorzinho de bosta", não tô falando da crise política ou econômica, refiro-me a mãe delas, de todas elas. Nossa crise na educação, formal e informal, de berço ao túmulo, da escola, de casa, da rua. Professor sempre foi tratado e será por muito tempo lixo, a profissão que só abraça quem tem vocação, um sacerdócio, nada mais neutralizador da profissão de professor e seu papel estratégico na sociedade.

Impera a noção de quem tem juízo e dinheiro, vai ser outra coisa. Ai temos uma concordância entre os belicosos que iniciei o texto, tanto pobres como ricos (acho que mais os últimos) tratam mal ou desqualificam o professor, não querem que seus filhos sejam um. A elite produz esse código, os pobres acatam o "ser professor, Deus me livre". Acho que os chamam de "mestres" como forma de desconto, de pena, mestre não sendo título, mas um apelido carinhoso para os que levam surra quase todo dia nas salas de aula. Uma compensação no ego massacrado.  

O "professorzinho" logo é sacado nos conflitos da escola, quantos alunos assim já se dirigiram? Vindo de estudantes da elite ou não, de instituição pública ou particular, tal tratamento é assumido como código, que evidente, não parte só de alunos, mas dos pais, dos diretores, dos políticos, gestores, mesmo que estes não verbalizem, eles gritam "bostinhas" com suas politicas públicas para o setor, ou na verdade, a ausência ou o desmonte delas. Então, esse é o código mor dos demais, cria-se até a polarização: professores X profissão/trabalho, pois acredite, tem gente que pergunta: - Vem cá, além de dar aulas, tu trabalha de quê mesmo?

A hierarquia é institucional na educação e na nossa sociedade capitalista, individualista, homogeneizadora e classificadora, por isso as díades e polarizações, somos binários. O professor que não quer ser assim pra sempre, um subalterno do sistema educacional, faz mestrado e doutorado, quer sair do reino dos "bostinhas" (educação básica pública ou privada) e ir para o ensino superior, um céu de várias nuvens também, e como sabemos, na vaidade da academia, não existe limites. Mas fora desse céu, haverá sempre um "doutor sem doutorado" (advogado, médico, empresário, político) para lembrar que mesmo com pós-doutorado, ele ainda é e será sempre um mero professor, para esta elite o doutor professor é "grande bosta". 

Por essa crise mãe, nossas redundantes crises filhas. Apesar do "choro", não faço o texto como vitimização ou para estimular outro código, o de "vira latas", um coitadismo relativista que nada altera. Pelo contrário, trata-se de sairmos desse lugar de espera por mudanças, de passividade, os professores tem que mostrar para a sociedade o contrário desse "normal" que se impõe, são eles que trabalham com isso, com formação de opinião, mostrando o cardápio para os alunos que veem tv, navegam na internet e assim saibam que não existe apenas "mortadelas e coxinhas", possam entender minimamente como essas oposições são construídas, incluindo esta a respeito do professor. 

Professor analfabeto político é um ultraje, os bons professores tem que estimular os colegas desanimados, participar da vida escolar e sindical, pressionar nas reformulações curriculares e políticas na área da educação, da formação docente, afim de diminuir em boa parte, os colegas que se rendem ao sistema que lhes pressiona desde a formação, aliás, desde a escolha universitária pela licenciatura, as vezes, a opção de curso possível em certas faculdades, situadas em realidades mais carentes, fazendo desta graduação inferior, menos requisitada, lugar dos piores alunos no ensino básico. Uma formação superior que capenga, juntando com falta de vocação, pode gerar ai sim, professores que não querem ensinar e são usados para justificar o código "professorzinho".

A revolução que não será televisionada, parece que também não virá pelo voto em um santo popular neste sistema arcaico e fantasiado de novo por publicitários nas campanhas. A única revolução possível e não tão utópica assim, virá das salas de aulas e não somente dos professores, mas de todos que aprendem em comunhão como disse Paulo Freire. Essa importância da educação já é sabida, até pelos políticos que nas campanhas prometem melhorias que nunca se concretizam nesta área, falta cobrança veemente e certeira de uma população que no processo solidário de pedagogia da autonomia, cobre o que passa a ser essencial e óbvio, educação de qualidade para todos.

Se revolução é mudança, transformação, desorganização para organizar, educação é a chave certa, é virando ela que tudo começará a mudar, o sistema politico, os eleitores, candidatos, os jornalistas e donos das mídias, os conteúdos nas redes sociais... Mais crédito aos professores, que bons profissionais, sabendo de tudo isso, continuam nesse caminho árduo da educação brasileira, entendendo que o "bostinha" e o "professorzinho", são efeitos colaterais da crise que por séculos, recoloniza o Brasil, e eles são parte essencial da engrenagem da mudança.

terça-feira, 3 de março de 2015

Cartas Para Amanhã. (2015-2018)

Luciana Sousa, 15 anos, estudante do 1º ano do ens. médio. Tem expectativas de desenvolver bem todo o ensino médio e se tornar professora no futuro. Enfatizou que isso depende dela agora e que corre atrás para que parte da carta seja um preludio. 

Mais um início de ano letivo, estudantes e professores regressam uns mais e outros menos empolgados com todo o ano que tem pela frente. Tempo que segundo Santo Agostinho é a imagem móvel da eternidade. O tempo, além de indissociável para vida/existência, é deveras importante para um amadurecer filosófico, seu entendimento e didatismo possível como eixo para diversas disciplinas, não somente da área de humanas. Só lembrarmos da teoria da relatividade para física...
Trabalhando o conteúdo “Introdução aos Estudos de História” nas turmas de 1º anos do ensino médio, diante de vários conceitos pertinentes a História como ciência ou como literatura, não há como entender a construção e o desenvolvimento do conhecimento histórico sem perceber e entender as várias concepções de tempo, sendo o “da alma” ou “do mundo” (Stº Agostinho, Aristóteles). 
O tempo histórico carece de análises que o enquadrem melhor como próprio da história e para isso, são necessárias abordagens filosóficas básicas como as iniciadas por Heráclito e Parmênides, sobre a fluidez e a transformação das matérias e do ser frente ao que chamamos de tempo. A partir deste eixo temático, o professor de História Dhiogo Rezende baseando-se em uma matéria de jornal sobre um professor de química que propôs uma atividade onde os estudantes deveriam escrever uma carta para eles mesmos, de modo que estas ficariam guardadas para serem entregues aos próprios docentes no futuro (distante), tais cartas foram entregues pela filha do professor que faleceu antes de completar a proposta, criou a atividade “Cartas Para Amanhã”.
Após aulas sobre o conceito e a importância da história, sobre o fato de todos pertencerem à história como sujeitos, as fontes históricas no trabalho dos historiadores e sobre o tempo histórico, foi pedido que os estudantes elaborassem um texto dissertativo sobre suas impressões diante da construção de suas próprias histórias, como indivíduos parte de um coletivo, a família, a comunidade, o país, de modo que eles relacionassem esse comando inicial com as suas percepções de passado, presente e futuro, deixando claro para eles que apesar da história não contar com o futuro em suas análises, como também não se pode pensar na história somente no passado, distante do presente, é sempre humano ter expectativas sobre o futuro, sobre o amanhã. Por isso a importância do conhecimento histórico e da relação desta com o tempo.
As cartas foram feitas e entregues com empolgação, pois a atividade gerou aquilo que justamente está previsto como seu objetivo, a reflexão sobre a fluidez, mudança, transformação e ao mesmo tempo permanência da vida, da história, tornando o tempo, um jogo onde não se sabe ao certo quem perde e quem ganha, mas com certeza perde muito quem não se arrisca e não se prepara para jogar. As tais cartas serão entregues em três anos, quando eles estiverem em um ano importante de suas vidas, o 3º ano do ensino médio, no ano de 2018.
Alguns demonstraram mais expectativas, outros menos sobre o impacto que aquelas palavras de um "presente que já é passado" terão, como se acomodarão com o que virá no futuro de cada um. O importante é que esta atividade, assim como o tempo que não nasceu e morreu, vai existir não só por três anos, estará presente em cada um na construção de suas histórias, sem prazos de validade, desde que estas tenham importância. Um trabalho pedagógico que no momento da escrita da carta, até o dia em que ela será entregue aos seus donos e donas, ficará viva, mesmo que para alguns fique serena e parada, quando se vive distraindo a vida com o próprio viver, desapegado de reflexões um pouco mais densas sobre a vida e o tempo diante das instantaneidades da vida moderna,  tão características da juventude do século XXI apresentam. Essas cartas ainda darão muito o que falar... no encontro destes jovens com eles mesmos em 2018, em suas mudanças e permanências na vazão dos rios de suas histórias. 


sábado, 20 de dezembro de 2014

O Código Florbela. Dos filhos aos pais!

A Obra
Hoje tirei o dia para fazer faxina, na casa só eu, a mãe, Cora que ainda está na barriga e Florbela estão de férias, na minha espera enquanto ainda não me livro do trabalho. O pai em casa sozinho, caçando tarefas, exercícios de uma personalidade que se organiza na bagunça pessoal. Metódico doméstico, a ordem do dia é varrer, aspirar, arrastar móveis, aproveitar a rara disposição e o fato da grávida não está no recinto e pintar o quarto do bebê que virá em abril e a provisória única pequena exploradora e inquieta da casa não está para atrapalhar. 
 
Eis que no meio da estafante tarefa de pintar as paredes cheias de riscos, rabiscos, formas estranhas e coloridas, ao terminar o quarto da Cora que ainda não nasceu, me deparo com outro desenho, desta vez na sala de jantar. Um Florbelaaaaaa bem alto soa na minha mente carrancuda e ignorante do mundo das crianças que um dia já foi meu e de todos adultos.

Provavelmente, se ela estivesse em casa, reclamaria, seria grosso, mostraria a coisa errada e feia que ela fez com ar educativo e realista de quem sabe o que é certo e errado. Mas a solidão da casa deixa brechas para reflexões, tornando-me um filosofo de fim de semana, me permiti olhar melhor o desenho e iniciei minha aula, com a professora Florbela ausente.
A Autora

O desenho me ensinou primeiramente que é uma dádiva ter crianças em casa, aquela menininha de grafite só está ali por existir outra na casa, de carne e osso, depois, que a matéria do concreto é pobre com apenas a mais cara das tintas e sem as marcas da existência desses pequenos seres encantadores de paredes. Mostrou-me que arte é a atividade que os adultos fazem para voltar a ser crianças, uma aula do que é expressão livre e resistente diante das normas paternais.
Uma verdadeira obra de arte, a qual não apagarei, servirá para mais aulas, revisões, e quem sabe um dia, para ela mesma lembrar-se de sua alma livre de criança, é também um manifesto reflexivo sobre quantos pais e filhos não podem ter a ampla liberdade do amor, fazer da casa um ateliê do mundo melhor, possível ao menos na sala de jantar.

O Código Florbela me levou a verdade da não verdade, de que tudo é tudo e nada ao mesmo tempo, de que estamos sempre sendo, nem fomos, nem seremos, sempre estamos sendo, podemos ser crianças, adultos e velhos ao mesmo tempo, o que importa é viver o que se é, do jeito que é, mas sendo e deixando ser, nós e os outros. Um desenho da vontade de potencia, de uma menina que um dia será uma mulher e eu, um velho avô que tentará em meio a erros e acertos, lembrar desses dias de arte ativamente, sem ressentimentos travadores da boa limpeza da memória que precisa nos deixar ser o que somos no presente atual e em todos ainda pela frente, os que alguns chamam de futuro.

A pequena nietzschiana sem saber me deu uma aula de filosofia prática, sobre o belo que é tudo aquilo que é feito pelo ser em sua essência, sem pretensões, sem idealismos, sem niilismos, apenas a vontade, um lápis, a parede a sua frente, o ato humano cru e fiel a vontade de realidade.


Na volta das férias vamos conversar e filosofar mais sobre sua arte e este texto gravado na nuvem da internet servirá de lousa para quem sabe, o aperfeiçoamento da pequena artista mais tarde, de quanto ela foi responsável pela melhora do pai, doente na falta de mais “amor fati”, preso a casa ideal no mundo platônico e por tabela, uma base para irmã mais nova que ainda está presa no amor amniótico e umbilical da mãe, mas ganhará em meses a oportunidade de se aventurar na imensidão dessa jornada do real, sendo tudo e nada a cada momento. Foi preciso ficar sem elas em casa para aprender tudo isso, resumir que sem suas "danadisses" do jardim feminino, eu nem teria chão e nem teto, nada para chamar de lar. Obrigado a pequena estrela bailarina que diante de um aparente caos de manchas e rabiscos na parede, pode dançar livre, leve e solta pela casa e pelo mundo. (Paráfrase de Nietzsche) 

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A difícil missão do professor que ousa ser Mestre no Brasil.

1ª Turma do Mestrado Profissional em Ensino de História - Universidade Federal do Tocantins (UFT). Aprovados no exame nacional 2014 coordenado pela UFRJ. As aulas iniciaram em agosto de 2014, a duração do curso é de 2 anos. A maioria da turma divide as aulas e leituras do mestrado com suas cargas horárias na educação pública e privada, alguns já entraram com pedido de afastamento desde agosto e até a data da matéria não lhes foram concedidas. (Na foto, os 15 mestrandos e o Profº Dr Vasní de Almeida - último da direita) 
Profissão professor, “profissão perigo”. Pode parecer exagero, mas esta expressão que inicia este texto, quando se vai ao fundo da educação no Brasil, não precisa ir tão as profundezas assim para que o termo “perigo” faça algum (muito) sentido. É um trabalho de extrema periculosidade, corre-se grande risco de sofrimento, padecimento físico, mental e moral caso a sua profissão seja a de “Mestre”.

Basta uma breve busca na internet e choverá na tela do seu computador matérias de casos de agressão aos professores, greves por melhores condições de salários e de trabalho, uma onda de judiação com direito a “cozinha” dos políticos, gestores que jogam no caldeirão ingredientes da importância primordial que a educação precede em qualquer projeto de sociedade, lasquinhas de “blá, blá, blá junto com condimentos apimentados nas ardilosas colocações como um ou mais governadores salpicaram em frases que descascadas, é algo mais ou menos como: “professor tem que ensinar por amor e não por salário”.

Mestre é quem tem mestrado e doutor é quem tem doutorado. Enquanto alguém que veste branco ou usa gravata é “doutor” sem formação stricto sensu e sem nenhum esforço quanto a tal reconhecimento, o professor tem que suar por duas ou mais vidas e se multiplicar entre sua carga horária estafante e “perigosa” para prosseguir no caminho severo de sua formação. Quando e olhe lá, além de “tio”, o “profi” leva o nome de “Mestre”, além de ser em certos eventos como no Dia do Professor, não soa como o título do doutor “adEvogado”, parece um “tapinha nas costas” e apenas frase de efeito colorida e pronta para cartões: “ao mestre com carinho”, uma forma de aliviar o ego tão massacrado deste profissional brasileiro.

Um mestre cujos discípulos não querem se tornar, o professor brasileiro segue atônito e refém da esperança de que um dia a educação e a valorização docente saltarão dos discursos e palanques e cairão no chão das salas de aula deste imenso Brasil. Espera que eterniza-se dada também a falta de politização e organização sobre as bases de uma consciência social, de classe da qual Marx já gritava manifestadamente em seus escritos como um dos fundamentos para transformação social diante do sistema de opressão dos trabalhadores no século XIX. Em meio aos sindicatos pelegos ou simplesmente mortos, os trabalhadores da educação alimentam nos bastidores de qualquer greve (nas suas edições anuais) o chavão: “professor é raça desunida”.

Melhorar a qualidade da formação dos professores é um dos maiores desafios educacionais do Brasil hoje e, para especialistas, as metas e estratégias do Plano Nacional de Educação (PNE) são essenciais para o pleno desenvolvimento da área. Plano este que foi aprovado com um atraso de uns 3 anos. O censo escolar mostra que menos de 30% dos professores possuíam pós-graduação em 2001, número que não se alterou muito até 2014. Havendo sim crescimento de títulos de mestrado e doutorado no Brasil como revela reportagem do Estadão, estas titulações aumentaram em 15 anos (1996-2011) 312%, onde do total de mestres formados, que era 13,3% em 1996, pulou para 22,4% em 2009, 40% estão na área da educação (básica ou superior). (fonte: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-quadruplica-numero-de-mestres-e-doutores-imp-,1024725)

Sabe-se que como nas graduações, há também nas especializações (latos sensu) um mercado de certificações com cursos em períodos curtos, com aulas nos finais de semana, à distância, justificadas nas dificuldades dos professores em suas cargas horárias enormes, servindo de impedimento para sua formação em nível de pós-graduação, existindo instituições nas esquinas que se abastecem dessa carência cobrando quaisquer R$ 99,90 de mensalidade.  

Fazer mestrado para muitos professores da educação básica é um sonho quase impossível, a impossibilidade eles deixam para um doutorado mesmo.  “Considerando-se apenas mestrado e doutorado, vemos que o percentual de professores com este grau de formação, na melhor das hipóteses, não chega a 1% para os professores da 4ª série; 2%, para os professores da 8ª e 5%, para os professores da 3ª série do Ensino Médio.” (MEC-INEP 2001).

Há inúmeras dificuldades quase intransponíveis, é preciso muito força de vontade e evidentemente preparo já que as seleções são difíceis, ainda mais para quem está afastado das atualidades e dos graus de leitura tão comuns na academia. Quando se consegue passar nos processos seletivos, os professores enfrentam a burocracia e a falta de incentivo e vontade política das administrações públicas onde o mesmo está lotado, na liberação de afastamentos (previstos em lei) para aprimoramento e aperfeiçoamento profissional. No caso de servidores públicos concursados, quando o docente é contrato ou está na educação básica particular, as dificuldades são ainda maiores.

Parece que há um receio ou uma constatação de que quando professores obtêm titulo de Mestre, deixam a educação básica e procuram o ensino superior para lecionar, por isso certa barreira em liberá-los para o mestrado. Evidente que a razão para tal fato reside na vida, na carreira desse professor da educação básica, em certos casos, considerada um inferno, onde a fuga para o “céu da educação superior” passa a ser um objetivo de vida, ou ainda, um sonho. Uma realização mais pessoal e intelectual do que financeira, pois a remuneração do professor da educação básica com nível de mestrado e até de doutorado, na maioria dos sistemas de ensino é irrisória diante da turbulência que a maioria dos professores mestrandos passam para enfim poderem ser chamados de Mestres após as defesas de dissertação.  

Mesmo com uma paisagem ainda nebulosa, a melhoria na qualidade da formação dos professores vem se apresentando nas concessões de bolsas para professores de escolas públicas e na aposta da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior) nos mestrados profissionais nas áreas de licenciatura, a exemplo dos mestrados em rede nacional profletras, profmat e profhistória que estão se espalhando por universidades federais de todo país. 


Contudo, é deveras importante que o professor, o que tem vocação, sobretudo, espírito para tão honrosa, mas tão desvalorizada profissão, não desistir, nem cair na depreciação voluntária da própria carreira ou classe, pois parece que é isto que certos setores, certas pessoas querem, a falência da educação básica, responsável pela formação da grande massa, filhos de trabalhadores, de gente simples, que merece na prática o que parece teoria na constituição, uma educação pública, gratuita e de qualidade. 

Referências:
http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-quadruplica-numero-de-mestres-e-doutores-imp-,1024725

domingo, 8 de junho de 2014

Educação e a Copa padrões FIFA. Dá pra ter as duas?

#Não vai ter COPA? Sempre teremos copa, tomara que sempre eleições. Democracia real, cidadania, consciência, educação de qualidade, já passou da hora de termos também.
Do educAÇÃO BR. 

A mesma pessoa que disse que a “seleção brasileira é a pátria de chuteiras” também disse que “das coisas menos importantes o futebol é a mais importante”. O autor destas frases é tido como um dos mais influentes dramaturgos do país, um dos nossos gênios das letras. Nelson Rodrigues, jornalista e escritor, era apaixonado por futebol, como 9,9 entre 10 brasileiros.

Quando o Brasil foi tricampeão em 70 no México, éramos 90 milhões em ação, empurrando o Brasil, salve a seleção. Nesta década o país registrava taxas de quase 30% de analfabetismo da população (IBGE. PNAD. 1977). Somos mais de 200 milhões agora, de lá para cá, ganhamos mais dois títulos mundiais (1994 e 2002), podemos ser hexa na nossa segunda copa em casa.

Segundo a (PNAD. 2011), a taxa de analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais no Brasil estava em 8,6%, totalizando 12,9 milhões de brasileiros, o Brasil ocupava a 8ª posição entre os dez países com maior número de analfabetos do mundo. Quando se trata de analfabetismo, refere-se a pessoas que não sabem escrever ou ler um bilhete simples, entre os considerados “alfabetizados” no Brasil, temos índices altíssimos de pessoas que até sabem ler e escrever, mas não desenvolvem raciocínios simples sobre conteúdos igualmente simples.

Segundo o Relatório de Monitoramento Global Educação para Todos. Nenhum dos seis objetivos estabelecidos pela ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) será cumprido globalmente até 2015. 22% dos alunos brasileiros saem da escola sem capacidades básicas de leitura e 39% não têm conhecimentos mínimos de matemática como as quatro operações.

Em ranking, divulgado em 2012 pela Pearson Internacional, O Brasil ficou na penúltima posição em um índice comparativo de desempenho educacional feito com dados de 40 países. Avançamos muito da década de 30 para cá, década em que o ensino primário gratuito começou a ser instituído na Constituição de 1934. De 70 em diante, nossos índices melhoraram, mas não são suficientes em número e muito menos em qualidade. O que acaba nos deixando atrás de dezenas de países que trataram da questão de forma diferente.

Na Copa da educação, estamos sempre na lanterninha, parece que há uma inversão, os países que estão em primeiro lugar na educação, Finlândia, Coréia do Sul, não tem tradição no jogo de bola mais famoso do mundo, enquanto o Brasil é um gigante do futebol mundial. Opa! Mas não é bem assim, existem países que tem bons níveis educacionais e são competitivos com suas seleções como a Alemanha, Itália, França, Holanda, Espanha. Os E.U.A são pernas de pau (exceto no feminino), mas com a China papam as medalhas de ouro das Olimpíadas.

Estes países, não são tão vitoriosos no futebol como o Brasil, mas fazem funcionar melhor seu sistema, não investem no futebol, investem na educação global de suas nações, o que insere a educação física, esportiva, a cultura corporal e mental que geram atletas que após a curta carreira de esportistas representando seus países, podem desenvolver outras atividades, dentro ou fora do esporte, pois a maioria é de estudantes-atletas ou vice e versa, a exemplo da UCLA (Los Angeles) que cria grande parte dos medalhistas olímpicos.

Sempre ouvimos, o brasileiro é antes de tudo um forte, é capaz, não desiste nunca, temos muitos talentos nas artes, no esporte, mas parece que os próprios brasileiros esquecem-se disso e assim não conseguem fazer os representantes nos poderes legislativo e executivo entender que existe material humano, mas que este necessita de lapidação, um povo carente de seus serviços públicos básicos, anestesiados e enclausurados em sua própria ignorância secular, sofrendo de inanição política. 

A partir de 70, o Brasil viveu nebulosamente o auge dos anos de chumbo (1964-1985), a Copa do México e a conquista da taça roubada foram usadas propagandisticamente na luta dos militares contra a subversão dos grupos armados que queriam um país diferente. O povo embebido pela magia do futebol mordia a isca do “ame-o ou deixe-o”. Amar um país tricampeão mundial não era difícil, a seleção canarinho era a boa pátria, um regime torturador, assassino, que ocultava corpos em nome da ordem e do progresso de um país pra frente não passava de histórias ruins de ouvir ou falsas verdades. Melhor e confortável era se ligar na Copa e no Pelé.

Dessa vez a copa não será na Suécia (1958), Chile (1962) no México (1970), nos Estados Unidos (1994), nem na Coréia ou Japão (2002), destes países em que o Brasil sagrou-se campeão, só o México está atrás do Brasil no último ranking da educação, de 40 países avaliados, ficamos em 38º, na frente de México e Indonésia (BBC BRASIL. 2014). Assistiremos aos jogos em casa, pela TV, ingresso ficou para turista e para brasileiros que podem, os mais de 30 bilhões (nossos) "emprestados" para a "festa do futebol" pelo governo não deram cadeiras cativas aos mais humildes da nação. A Copa mais cara da história também dará o maior lucro para FIFA, instituição privada com sede na Suíça, contemplada com a inédita isenção total de impostos, enquanto os brasileiros normais, trabalham cinco meses por ano só para pagar impostos elevadíssimos que fazem o Brasil ser também um campeão tributário mundial.

Sabemos que essa copa que nos custou muito caro, podendo custar muito mais, tem obras prometidas há seis anos que só ficarão prontas (se ficarem) em 2015, 16, 17... Já estamos acostumados, o que são atrasos ou falhas ali acolá para obras padrão FIFA, diante das escolas, hospitais, transportes, estradas padrão Brasil?

O Brasil pode sim ser HEXA, o povo vai ficar feliz, felizes o povo, as grandes empresas, a FIFA, os milionários jogadores residentes na Europa. Se vivêssemos o famoso clima de copa nas vésperas das provas bimestrais de nossos filhos, nas provas do ENEM, talvez fossemos campeões de algo que nos levaria a lugares bem mais altos, cresceríamos com isso e para isso. Já repararam quanto da porcentagem da programação de tudo (TV, rádio, internet) é sobre a copa desde meses atrás? É muita pressão para que entremos nesse clima. 

A educação de qualidade pode nos dar conquistas não efêmeras, as copas assim como as eleições são de 4 em 4 anos, poderíamos pensar na segunda com seriedade e com o mesmo amor pelo país que temos pela seleção, desde que ela ganhe, com isso somos exigentes e chatos, já com nossos parlamentares e as bolas fora que eles dão...

Não precisamos deixar de ser campeões no futebol, não precisamos esterilizar este elemento de nossa identidade, mas não temos que continuar mandando a mensagem clara e altamente absorvível para nossos jovens, de que a educação, a escola é secundária, que na tradução juvenil quer dizer que ser NEYMAR é o sonho a ser buscado, e se não alcançado como em 99% das vezes, vale continuar reproduzindo esse tipo de visão de sucesso, de Brasil para as próximas gerações. Precisamos neymalizar, fredalizar ou daviluizar nossos professores, policiais (sérios e honestos), médicos, enfermeiros, motoristas, etc. #Não vai ter COPA? Sempre teremos copa, tomara que sempre eleições. Democracia real, cidadania, consciência, educação de qualidade, já passou da hora de termos também.

Referências:





terça-feira, 15 de abril de 2014

CAMPANHA: NÃO mereço políticos que estupram a EDUCAÇÃO!!!!



Atentos aos ABUSOS e as violações dos direitos da EDUCAÇÃO, o educAÇÃO BR (http://educacaobr.blogspot.com.br/) promove na internet, nas redes sociais esta campanha que visa marcar no tempo que falta até as eleições de outubro de 2014, o desfavorecimento e repúdio aos políticos que mostraram nos últimos 4 anos e ainda continuam demostrando total descaso com os sistemas públicos de ensino. Em pleno ano eleitoral, muitas greves eclodem no Brasil, como em anos anteriores, políticos do executivo e do legislativo não demonstram preocupação em resolver estas crises que nascem do próprio sistema político. A exemplo da greve da Rede Pública Estadual do Tocantins, que já dura 24 dias e até agora, as autoridades nada resolveram em relação a pauta dos professores, que entre inúmeros pontos, reivindicam, repasses atrasados as escolas desde 2013, pagamento de progressões salariais, pagamentos de salários do professores contratados, melhorias estruturais, fim da intervenção política nas escolas com eleição para diretores. Pontos que com muito custo, foram amarrados em um projeto de lei que aguarda somente a aprovação dos deputados, mas parece que assim como o executivo, estes políticos não querem fazer, nem em ano eleitoral, o que tiveram 4 anos para cumprir. Enquanto a greve é heroicamente mantida, professores são ameaçados com corte de ponto, multas ao sindicato pelo governo e até por deputados que estranhamente pedem primeiro o fim da greve, para que só depois a lei com a pauta da categoria seja aprovada na Assembleia Legislativa. Sem motivos nenhum para acreditar nas palavras dos parlamentares e do governo, os professores tocantinenses dizem que só voltarão as salas de aulas, com a responsabilidade de repor os dias parados, quando os deputados transformarem suas reivindicações em lei. Os professores afirmam que neles, os políticos e a população podem confiar, já o contrário, é impossível. 

A proposta da campanha é que no Tocantins e em outros lugares do Brasil, onde a educação também não é prioridade, através de fotos jogadas nas redes sociais, os participantes (cada um deles) façam o exercício de converter os dias de greve em números de votos CONTRA os parlamentares, governadores, e presidenciáveis, não comprometidos com a educação pública. 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O Enterro da Educação Brasileira!

Atividade da greve da Rede Estadual de Ensino. Manhã do dia 02 de abril - SINTET - Tocantinópolis - TO (Foto: Dhiogo Rezende)
Do educAÇÃO BR

Há muito tempo que ela agonizava na UTI, sobre os cuidados da SAÚDE, sua irmã, em uma unidade do SUS, a EDUCAÇÃO pública do Brasil chegou ao seu triste fim. Não resistiu aos inúmeros ferimentos, fraturas expostas do seu sistema, sem estrutura, sem tecnologia, sem material humano, com índices internacionais alarmantes, sua falência pode ser sabida em todo o mundo. Os sistemas educacionais de países como Coreia do Sul, Finlândia, China, lamentaram e manifestaram seus pesares em notas como esta: É uma pena, um país tão promissor como o Brasil, com uma economia entre as mais pujantes do globo. A educação brasileira, se estivesse saudável, poderia ser uma grande parceira com intercâmbios e produção de conhecimento e tecnologia, nossas condolências aos brasileiros, filhos da educação que agora estão órfãos. (Ministro da Educação Finlandesa)


Vídeo do "enterro da educação" Tocantinópolis - TO (Imagens: Dhiogo Rezende)

A imprensa vinha constantemente noticiando a respeito dos boletins médicos do grave estado da educação brasileira. Veja algumas noticias:
Brasil fica em penúltimo lugar em ranking global de qualidade de educação (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/11/121127_educacao_ranking_eiu_jp.shtml)


Seria o fim então da esperança? Nem todos os brasileiros, ainda em sua maioria não compreendem essa questão, pois o que poderia lhes fazer entender esta situação é justamente aquilo que está sendo sepultada, a educação. Sem ela não se sabe, não se sente, não se vê nada, NÃO SE PODE NEM ENTENDER ESTE TEXTO. Sem educação de qualidade o povo fica cego, surdo e mudo, somos então mortos sem ela e quando ela morre, o que somos? Nem mais mortos, somos então nada, sem história, sem memória, sem conhecimento, sem valores e virtudes. 

O inicio da matéria é carregado de licença poética, uma brincadeira bem séria do nosso Blog. No entanto a tal morte acontece. A morte da educação é uma morte diferente, acontece todos os dias neste país, nas cidades pequenas, nas médias, nas capitais. Governos e seus políticos a matam todos os dias de inanição, governos ditadores ou falsos democráticos a colocam no pau de arara, a torturam até a morte diariamente.
Entrevista do Presidente do SINTET - Tocantinópolis Cléber Borges sobre o ato "Enterro da Educação". Fonte Tocnoticias.

No Tocantins, professores em greve desde 24 de março, fizeram a titulo de ilustração carregada de simbolismo a realidade da educação no Estado e no Brasil, enterraram a educação que já estava em alto grau de decomposição. Neste tipo de crime, os assassinos só podem ser punidos pelo povo, este tem a oportunidade de abrir inquérito a cada 4 anos e com o titulo de eleitor, punir severamente os algozes do povo, os assassinos da educação, tirando-os do convívio sócio político nas prefeituras, governos de estado e presidência. 

Noticias sobre a educação do Tocantins:
Escola em Filadélfia está em situação precária; Governo prometeu solução há 2 anos (http://www.afnoticias.com.br/noticia-4848-escola-em-filadelfia-esta-em-situacao-precaria-governo-prometeu-solucao-ha-2-anos.html)
Professores nas ruas. Governo, a culpa é sua! CASO TOCANTINS. (http://educacaobr.blogspot.com.br/2014/03/professores-nas-ruas-governo-culpa-e.html)