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Navegando na internet, em sites de relacionamento, em uma comunidade de professores do estado da Bahia nos chama atenção um relato, um verdadeiro desabafo de um professor. O docente conta com uma "franqueza poética" como vê seus estudantes e suas aulas e as suas perspectivas (ou falta delas) diante de tal quadro a cerca de seu papel ou função como professor.
Suas palavras são semelhantes ou iguais a de centenas, milhares de professores brasileiros, e este "filme dramático" têm muitas copias por ai, rodando todos os dias nas escolas, principalmente as públicas do nosso país. Quem é professor no Brasil, pelo menos em algumas partes pode se identificar.
O titulo que ele coloca no seu desabafo é “De um professor”.
Fico imaginando o que faço por aqui.
Não tenho escrito tanto, por absoluta falta de tempo, mas a frustração que sinto me impele a fazê-lo. Estou dentro de sala e meu medo é imenso, minha angústia incomensurável, minha frustração suicidante.
Não vejo perspectivas futuras a estes alunos; não vejo mudanças em suas vidas; não vejo como conseguirem algo melhor de que seus pais conseguiram os dar; não vejo como, futuramente, se encaixarem em um mercado de trabalho competitivo como o nosso.
Não vejo como não passarem fome, necessidade, necessitarem de bolsas-auxílios-assistencialistas-família.
Tenho conversado com eles aula a aula; falo das profissões, da necessidade de estudo, de futuro. Pergunto o que querem, o que pretendem, o que pensam?
Na próxima aula, nada mudou.
Na última aula que estive com eles, antes dessa, me estourei. Fiz o que não se pode fazer. Gritei.
Hoje entro em sala.
Calado.
Frustrado.
Cansado.
Desestimulado...
Escrevo um texto qualquer no quadro para que copiem, sabendo que poderia escrever um texto sobre a perspectiva kantiana de conhecimento matemático, em inglês, que daria na mesma.
Talvez fosse melhor fazê-los copiar um texto em russo, porque assim nem eu mesmo também entenderia ou me interessaria.
Estaríamos quites.
Ouço um aluno perguntar para outro: “Declev é professor de quê mesmo?”; “Ciências”, responde o outro.
Fico calado, pois é como estou hoje, perguntando-me como um aluno não sabe de que dou aula, se já estamos no início de junho?
Viro-me ao quadro e escrevo mais um pouco, segurando na mão o livro de ciências de onde tiro o texto da perspectiva kantiana (ou poderia sê-lo).
Termino de escrever três parágrafos e sento para fazer a chamada, sem vontade nem de falar o nome deles.
Um aluno vira-se para mim e pergunta: “Declev, você é professor de quê? Qual é a sua matéria?”.
Levo as mãos ao rosto e tenho vontade de chorar. Respondo com um resmungo e escrevo estas linhas.
Eles ficam conversando, como se eu não estivesse aqui.
teu cu
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