Vídeo com imagens da cerimônia de formatura.
Do educAÇÃO BR
Na noite de sexta feira
do dia 6 de dezembro de 2013, estudantes e professores do curso de ciências
sociais da UFT – Tocantinópolis, os antropólogos André Demarchi e Odilon
Rodrigues e a doutora Liza Brasílio. Fizeram parte do grupo convidado pela
direção e coordenação da escola Tekator do povo Apinayé, para acompanharem a
formatura dos estudantes concluintes do ensino médio.
Para muitos era a
primeira vez que pisavam em uma aldeia indígena, para outros a familiarização
estava dada. Como toda cerimônia, independente da cultura, naturais são os
atrasos e contratempos, o que não diminui a importância do evento e dos
participantes, principalmente para os envolvidos diretamente, como os índios
formandos e seus familiares.
O espaço escolar estava
literalmente lotado, a comunidade da aldeia estava em massa como espectadores,
homens, mulheres, idosos, crianças de todas as idades. Pelo que constou, a
cerimônia deveria acontecer no centro da aldeia, ao ar livre, como é de costume
dos Jês, no entanto a chuva desse dia não permitiu tal localização.
Enquanto a formatura
não iniciava, uma trilha sonora com cantos de um coral indígena fazia a
ambientação sonora, o espaço da escola, destinado normalmente a uma espécie de
refeitório, cadeiras em duas metades, uma para os formandos, outra para os
padrinhos e madrinhas.
Um púlpito decorado com
folhas, sementes, enfeites naturais, assim como a mesa com frutos, caroços,
sementes, folhas, artesanatos e um tecido vermelho, aguardava a presença de
convidados importantes na área da educação, representantes da direção escolar
como o Júlio Kâmer, o diretor regional da secretaria de educação estadual Dorismar
Carvalho, membros da FUNAI, representantes da Universidade Federal do Tocantins
como a Drª Liza Brasílio.
Os formandos e seus
respectivos padrinhos e madrinhas estavam em uma das salas de aula se
preparando para a formatura. As mulheres com suas pinturas corporais assim como
os homens, o preto do jenipapo e o vermelho do urucum estavam presentes em
traços geométricos ligeiramente assimétricos. As mulheres em maioria não
estavam nuas, cobriam os seios com sutiã, algumas mais velhas deixavam os seios
amostra, uma peça de palha trançada era usada como saia, algumas também nos
homens que padronizadamente usavam shorts com escudos de times de futebol, do
Brasil e até de clubes estrangeiros.
Enquanto os formandos
se preparavam, muitos dos estudantes aproveitaram para tirar fotos deles, notei
que na maioria gostavam dessa exposição, alguns até pediam para que tirassem
fotos, sendo notável a timidez de outros diante de estranhos e suas máquinas
fotográficas. Mas sem nenhum constrangimento ou algo que se tornasse um
conflito ou um choque.
Começa então a
formatura, um mestre de cerimônia, professor não indígena, com rosto pintado,
com peças e acessórios indígenas fala no microfone os protocolos da cerimônia.
Cerca de 15 a 20 pares (formandos e padrinhos) entram um por vez e se separam,
cada um para uma das bandas de cadeiras. Após todos os casais entrarem, uma
menina entra com um artesanato que continha todos os “canudos”, diplomas da
conclusão de cursos que seriam entregues pelos representantes de entidades postos
na mesa central, mediante chamadas os formandos recebiam seus diplomas e
pousavam para fotos, executadas por máquinas e celulares, tanto de não
indígenas como de indígenas.
Houve alguns oradores,
um dos professores indígenas dos formandos discursou sobre a importância do
fato e a necessidade da continuidade dos estudos, como decisivo para o
fortalecimento da cultura Apinayé. Um missionário da Novas Tribos do Brasil
discursou com um Apinayé bastante fluente, o diretor regional da SEDUC-TO falou
de alguns problemas ocorridos durante este ano letivo e deu como exemplo alguns
índios que estavam no percurso acadêmico das universidades, e que os formandos
presentes poderiam trilhar o mesmo caminho, assim como completou a
representante da UFT que informou a comunidade a presença de estudantes
indígenas no campus de Tocantinópolis e respectivas bolsas de auxilio
permanência estudantil.
O diretor escolar Júlio
Apinayé fez a oratória final, em Apinayé e depois em português, valorizou o
evento e os formandos, assim como a cultura e a educação indígena como forma,
instrumento político de resistência e consciência étnica do povo Apinayé.
Assim como na abertura
cuja canção tinha a palavra Jesus em meio às palavras em Apinayé, o
encerramento foi com apresentação de dança e canto indígena feita por
professores, formandos, padrinhos e madrinhas. As mulheres em fila e um grupo
de homens à frente, liderados por um tocador de maracá e puxador do coro, um
cantor que se movimentava ritmicamente para cada uma das extremidades da fila
das mulheres a sua frente. Um banquete foi oferecido pela escola aos formandos
e familiares que lotaram uma das salas de aula.
A interculturalidade e
os esforços de ambos, índios e não índios para a mesma ser uma realidade no
evento foram observáveis e nítidos, dentro de um espaço que não é original da
cultura indígena, mas encontrando-se cada vez mais na escola, apropriada, feita
por índios, a sua identidade e manutenção de suas culturas, um bom instrumento
na luta contra o desaparecimento ou esquecimento cultural.
Fica a reflexão sobre
tal convivência que nem sempre é harmoniosa nos vários cantos, recantos e
regiões do país onde a fricção interétnica é inevitável desde séculos atrás nos
tempos coloniais que ainda refletem, assim como os conflitos.
Gamas de preconceito e
discriminação, muito mais por parte dos brancos, acostumados a uma história e
uma sociedade que é montada ou fabricada por eles mesmos, o colocam em graus
hierárquicos bem acima das populações indígenas. Lembrando que o convite para a
participação da formatura indígena aos “brancos”, como constantemente foi feito
pelos indígenas. Quando será que veremos com mesma ou mínima intensidade o
convite inverso?
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