Do educAÇÃO BR.
Desde o inicio de fevereiro de 2014, estudantes brasileiros matriculadas na educação básica, de instituições públicas e privadas, voltaram. Voltar a estudar, a frequentar as aulas no Brasil, não necessariamente quer dizer que as aulas voltaram. Se entendermos “aulas” como abrangência de um sistema educacional preparado e sólido para assim definirmos “aulas” como uma espécie de bem (serviço) acabado e pronto para devida aplicação e desenvolvimento.
Desde o inicio de fevereiro de 2014, estudantes brasileiros matriculadas na educação básica, de instituições públicas e privadas, voltaram. Voltar a estudar, a frequentar as aulas no Brasil, não necessariamente quer dizer que as aulas voltaram. Se entendermos “aulas” como abrangência de um sistema educacional preparado e sólido para assim definirmos “aulas” como uma espécie de bem (serviço) acabado e pronto para devida aplicação e desenvolvimento.
Sabemos que no
Brasil não é assim que a banda toca, ao menos não antes do trio elétrico passar. Nas privadas, boa parte delas, partindo dos discentes que por suas vez influenciam parte dos docentes ou vice e versa, as faltas, atrasos, molezas de
ambos os corpos, as aulas só voltam mesmo, de fato, após o carnaval, assim como
é o regresso de muitas outras atividades neste “país tropical e abençoado por deus”.
Mas quando se trata de educação pública, serviço prestado a população, de
responsabilidade dos poderes públicos, a coisa pode ficar bem mais complicada, um samba sem nota alguma.
Primeiro: as
prefeituras e estados não tem o costume “republicano” e constitucional de
fazerem concursos públicos, a população também não tem o hábito de reclamar ou
denunciar no ministério público, que por sua vez, não tem estrutura humana ou
técnica administrativa para fazer cumprir a lei. Resultado, as escolas são sim
cabides de emprego, aliás, são varais, levando em consideração que o número de
funcionários da educação é sempre muito volumoso. Os contratos temporários são
“coronelisticamente” usados para barganhas eleitoreiras, além de “economias”
com impostos e demais gastos quando o servidor não é efetivo.
Muitas SEDUC’s
(Secretarias de Educação) Brasil à dentro, eliminam os contratos maliciosamente
dias antes do fechamento da folha de pagamento no fim do ano, para com isso não
terem que pagar o último salário integral (acima ou abaixo do piso), o que mexe também com o décimo
terceiro, onde nesse processo, as férias desses profissionais podem ser literalmente
uma furada. Sem vínculo, eles ficam a humilhante espera de mais um ano letivo, este que "começa e não começa" em fevereiro, nem para os contratos, nem para os
estudantes. O regime de contratação não é feito a tempo de o professor
entrar em ação no primeiro dia de aula. Resultantes da falta de vontade, de
competência do poder público dos municípios e estados, essa “volta às aulas”, pode ser em mais ou menos tempo.
Segundo: como falei
sobre as escolas particulares, onde em parte delas (as mais baratas e menos elitizadas), as aulas só voltam de fato
depois do carnaval. Contudo, quando passa o período momesco, o ritmo das particulares segue
freneticamente, pausando só em ano de copa do mundo (como bons brasileiros). Os pais estão pagando e
querem ver resultados, filhos aprovados nas melhores instituições de ensino
superior, paradoxalmente as federais, estaduais, públicas, aos demais, as privadas pelo PROUNI. Os professores são empregados, nesse
sistema tem que render, ou então estão fora, por isso o cabresto pode trazer melhores desempenhos, o que não é tão complicado com turmas de ensino médio, cujo os estudantes tem em casa, a lei da meritocracia melhor definida pelos pais.
Já nas públicas, os
efetivos, parte deles, não ligam tanto para compromisso ou "missão", ou para garantir uma renda decente, tem que
multiplicar a carga horária, em escolas diferentes, o que pelo desgaste,
inviabiliza uma qualidade didática. Estes acabam faltando muito, por não
adequação de horários, ou mesmo por doenças adquiridas nessa “vida louca”.
Assim, o docente de escola pública, mesmo o contratado pode ser levado a faltar
também, menos que o efetivo é claro, mas nesse ambiente nada producente, anti-didático cognitivo, carregado de riscos e insalubridades, quando
a falta não é física, é mental, até espiritual em sala de aula.
Terceiro: Professores
sabem dar aula (nem sempre e nem todos), mas não sabem falar de política, papel
singular dos que tem as disciplinas de história, sociologia, filosofia, com
toda a gama de pejorativos e estigmas degradantes e deturpadores, que enfim
derrubam discursos mais preparados a defesa da classe e da educação nacional.
A falta de maturidade,
habilidade e formação política dos trabalhadores da educação em suas
organizações sindicais ou partidárias, interferem diretamente na vida
escolar. As aulas têm várias voltas, depois das férias e depois das greves (inúmeras). Um
direito legítimo, conseguido a base de muito sangue na grande história da
humanidade que é a da luta dos povos contra seus opressores, pode ser
desqualificado e sabiamente usado pelos governos que jogam a população contra
os grevistas.
As vezes, por questões eminentemente políticas entre direções, suas oposições de sindicatos e governos, situações que urgem greve não são consideradas e em outras menos graves, faz-se logo alertas de estado de greve. Não é surpresa que a greve em muitos estabelecimentos escolares tenha um tom de folga, de descanso para alguns professores, quando justamente deve ser o contrário, o sentido do combate para se ganhar a guerra e assim a paz de não precisar mais ir a campos de
batalha, ao menos por um bom tempo, e não a cada seis meses ou de ano em ano. Quando da volta, depois de semanas, meses parados, há que se pagar aulas em finais de semana, em períodos culturalmente tidos como férias, de modo que assim, nada volta de fato e da forma que deveria ser.
Quarto: não acordamos
enquanto povo historicamente oprimido e explorado. Somente levantamos
assustados no meio da noite. Revoltados, estamos mais atentos para a corrupção,
má aplicação do dinheiro público, arrecadado de exorbitantes impostos, nossa
péssima segurança, saúde doente terminal. O “despertar” que vimos em julho de
2012, assim como as aulas, também não volta, ainda não colocamos de fato, a
educação como primeira e essencial pauta de lutas para uma revolução real neste
país.
Estamos nessa
inércia antológica, não vemos nas escolas públicas, grêmios, estudantes e pais
irem às ruas, nas portas das secretarias pedirem explicações ou exigirem um
retorno das aulas digno, em certos casos, que os secretários de governos chamam
de pontuais, as faltas (temporárias/eternas) de transportes escolares, de
merenda, de livros (com recursos já previstos, até já comprados), fora a falta
de professores já mencionada nos primeiros dias, semanas e até meses do ano
letivo, não provocam a fúria dos diretamente afetados, consequentemente, não há
interesse da nossa mídia, quando não omissa em parceria com o estado, é
anti-jornalistica já que julga tais pautas como perda de tempo, recursos e
audiência.
Vivemos em um país que
elege professores como coitados e jogadores de futebol como parlamentares,
estes sim são heróis, dividindo espaço no nosso Olimpo com os big brothers e cantores pop's. Os
melhores estudantes querem tantas coisas, menos serem professores, o estudante brasileiro
não lê mais de um livro por ano, muitos chegam ao final do ensino médio
contando nos dedos da mão esquerda do Lula. Praticamente metade da população é
semialfabetizada ou analfabeta.
Vivemos na última
década um notável crescimento das vagas e do acesso aos bancos escolares, da
educação básica, técnica e superior, mas nem de longe, há uma relação
proporcional com a qualidade. Nossas melhores universidades não estão entre as
cem melhores do mundo, ensino, pesquisa e extensão harmônicos são raridades, são ainda pequenos investimentos na educação, produção científica. Os IDEB's contradizem os altos níveis de aprovação nas escolas, números ao sabor dos governos. Nossas avaliações internacionais como a do PISA, nos
afundam, jogam nossa educação para bem aquém de países cujo Brasil está bem além no aspecto econômico bruto.
Trecho de última entrevista de Paulo Freire.
Para completar, temos
copa do mundo, olimpíadas e bilhões de reais para as mesmas, o que soa no
mínimo um capricho dos nossos governantes, pois não temos hospitais, escolas,
segurança, vias publicas, rodovias, aeroportos nos padrões FIFA. Para este país
dar certo, temos uma saída, esta que tem uma placa em letreiros garrafais
dizendo: EDUCAÇÃO. Como Paulo Freire na década de 80 disse em entrevista,
cansado, mas não descrente de sua utopia, disse que queria ver o Brasil das
marchas, dos sem terra, dos sem teto, dos sem segurança, dos sem afeto, dos sem
liberdades, sem emprego, sem renda, dos sem educação, dos mal educados, mas bem
vivos para dizer ao governo quem é que manda em quê e quem.
Assim, o problema
não está na volta das aulas que não volta, e sim, na volta das aulas sem
sentido de voltarem, para ser mero e mau cumprimento da lei, da sua volta sem
sua permanência e progresso. Quando é que essa volta
será acompanhada da educação que vem para ficar e crescer no Brasil? Quando as
marchas mencionadas por Freire serem também uma constante, e por essas, as
aulas darem um tempo, pela greve construtiva e legitima, pela luta que se faz
diariamente e pelo país que não pode voltar a ser o que nunca foi. Não um país
de “voltar”, mas um país de “ser”, ainda no presente, continuadamente pelo futuro.
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