Pesquisa de campo –
Aldeia São José – Apinayé. (Fotos de Dhiogo Rezende)
Estudantes do 3º ano do
ensino médio e professores do Colégio Dom Orione de Tocantinópolis, unidade de
ensino conveniada a rede estadual do Tocantins, realizaram uma atividade
diferente e fora das paredes da sala de aula no dia três de setembro de 2013.
A pesquisa de
campo faz parte do projeto “Reportante”, projeto ação desenvolvido por professores
e discentes a cerca de temas sociais relevantes para a comunidade escolar e
para cidade de Tocantinópolis e região tocantínia. A pesquisa foi realizada na
Aldeia São José, do povo apinayé e reuniu informações através de entrevistas e
depoimentos de lideranças e chefes de família referentes à relação de consumo
de produtos da sociedade não indígena.
O objetivo dessa
pesquisa de campo dentro do projeto é construir reflexões e entendimentos sobre
a etnia apinayé e sua organização social, seus modos de vida frente aos
impactos causados pelo contato histórico com a sociedade envolvente na cidade, em suas relações sociais a partir de produtos comprados pelos indígenas nos
mercados de Tocantinópolis.
A partir de relatos dos
próprios estudantes, em atividade direcionada a temática indígena anterior à
visita da pesquisa de campo, constatou-se um quadro de extrema desarmonia
apoiada em preconceito, desconhecimento e desvalorização que beira a xenofobia entre os indivíduos da sociedade não indígena para com a indígena na
cidade que recebe com frequência a visita de índios a procura e necessitados de
produtos e serviços.
Constitui-se objetivo
do projeto e da pesquisa aliada a analises a luz de materiais teóricos da ciência
antropológica e da história, compor instrumento de conhecimento que trabalhe e
harmonize as relações sociais visando ampara-las em visões mais coerentes com a
realidade dos povos indígenas frente ao processo histórico de colonização e
contato com a sociedade nacional, a fim de promover interações mais saudáveis e
respeitosas às diferenças culturais.
Os apinayé que já
chegaram a ter uma população de cerca de 4.200 no século XIX de
acordo com Cunha Matos, diminuindo drasticamente para 150 indivíduos segundo
Nimuendajú em 1928, atualmente tem uma população de 2.067 (Siasi/Sesai, 2012).
Estes números tirados de Povos Indígenas no Brasil, site do ISA – Instituto Socioambiental
são mostras do processo de impactos dos contatos através dos séculos com a
sociedade nacional, onde traços negativos deste processo ainda persistem no
Brasil moderno, fazendo-se necessárias, ações e atividades governamentais ou
não, principalmente partindo de instituições como escolas que possam se fazer
de instrumentos mediadores e propositores de relações mais harmônicas.
Quatorze (14) índios, entre
lideres e chefes de família, foram entrevistados e responderam um questionário
com perguntas relacionadas ao consumo dos indígenas e suas famílias por
produtos na maioria “não indígena” em mercados da cidade de Tocantinópolis - TO.
A pesquisa de campo e
seu questionário foram idealizados pelo professor de História Dhiogo Rezende em
parceria com a professora Alessandra Brandão de Geografia, o professor de
filosofia Willian Medeiros e a coordenadora pedagógica Hélida Brilhante. A coleta
de dados em campo foi feita pelos estudantes do 3º ano do ensino médio do
Colégio Dom Orione de Tocantinópolis – TO. As observações e os resultados da
coleta serão analisados para levantamento de conclusões posteriormente com o
andamento dos encontros do projeto.
Resultados da pesquisa. Dados coletados em
pesquisa de campo no dia três de setembro de 2013 na Aldeia São José (apinayé) –
Tocantinópolis.
Quatorze (14) índios foram
entrevistados (lideres e chefes de família) por estudantes do 3º ano do ensino
médio do Colégio Dom Orione com a orientação e supervisão de professores,
responderam a questionário na Aldeia São José, destes, dois (2) entrevistados
residem na Aldeia Palmeira, dois (2) na Aldeia Serrinha e um (1) na Aldeia Macabina, os demais moram na Aldeia São José.
A maior parte dos entrevistados
tinha idade entre 21 e 45 anos, entre eles um senhor de 80 anos, um dos mais velhos
de São José e de outras aldeias apinayé. Os poucos que relataram, as suas
rendas variam de R$ 150,00 a mais de um salário mínimo.
·
Dos quatorze (14) entrevistados, todos
disseram preferir produtos naturais aos industrializados (mandioca, arroz,
milho, foram exemplos), apenas um (1) disse preferir industrializados e outro
disse ter preferência pelos dois (café e açúcar foram exemplos de
industrializados).
·
Todos exceto Três (3) entrevistados afirmaram
haver poucos ou muitos produtos que poderiam ser produzidos em terras indígenas,
mas que são comprados na cidade, fava, mandioca, arroz, milho, tomate e batata
foram citados.
·
Dos quatorze (14), dez (10) disseram
que a frequência de idas a cidade para fazer compras é mensal, três (3)
disseram que é quinzenal e um (1) disse que é semanal. Nove (9) disseram que
essas idas são programadas, planejadas, os demais disseram ser aleatórias.
·
Na ordem de maior e menor consumo
(quantidade de produtos), em 1ª lugar estão itens de gênero alimentício, em 2º estão
primeiramente produtos de vestuário e dividindo a posição aparecem produtos de
limpeza e higiene e em 4º e 5º aparecem respectivamente produtos eletrônicos
e os que são considerados para lazer.
·
Dos quatorze (14) entrevistados doze (12)
consideram os preços dos produtos em geral na cidade como altos, um (1)
considera médio e um (1) considera baixos. Sobre pedir descontos ou analisar
melhor os preços antes de comprar, cinco (5) dizem não pesquisar antes comprar
e nove (9) dizem que sim, analisam os preços antes de executarem as compras.
·
Entre os itens considerados como de
necessidade básica (indispensáveis nas compras) pelos índios estão: arroz,
feijão, açúcar, óleo, café, sabão, sabonete, sal, leite, carne, farinha, temperos,
um afirmou a bebida alcoólica.
·
Sobre produtos que são considerados
objetos de desejo por parte dos indígenas, a maioria citou moto e carro,
televisão, geladeira, casa, armas também foram citadas, o único que afirmou não
ter desejos de consumo, justificou que queria apenas um carro, mas não para uso
pessoal e sim um que atendesse a comunidade.
·
Dos entrevistados, metade disse ter
acesso à internet, na maioria das vezes o acesso é feito na escola da aldeia,
depois é feito na cidade, a outra metade disse não acessar a internet. Dois (2)
dos entrevistados afirmou já ter feitos compras através de catálogos e
revistas, um pela internet e um (1) disse já ter feito compras através de catálogos
e revistas, internet e também telefone.
·
Onze (11) disseram reaproveitar de
algumas formas produtos adquiridos enquanto três (3) disseram que não fazem
reaproveitamentos
·
Quatro afirmaram que suas crianças não
consomem brinquedos, artigos infantis da cidade enquanto dez disseram que suas
crianças consomem.
·
Nove entrevistados disseram não ser atraídos
ou terem comprado produtos em função de propagandas, cinco (5) disseram que já
compraram produtos vistos em propagandas, destes, dois (2) por meio de cartazes
onde um deles citou também a internet, três (3) por meio da TV onde um deles também
citou a rádio.
Sobre as habitações dos
indígenas:
·
As quatorze (14) casas dos
entrevistados são tradicionais, nativas, feitas de argila e cobertas com palhas.
Foi observado que algumas têm a argila com acabamento melhor do que em outras.
· Entre as habitações dos entrevistados há
divisórias que variam entre duas (2) e seis (6), apenas uma casa dos
entrevistados não têm divisórias. Os tamanhos variam de acordo com o número de indivíduos
das famílias.
·
Sete (7) casas não possuem banheiro, seis
(6) tem o banheiro na parte externa da habitação e apenas uma (1) tem o
banheiro interno.
Bens domésticos em
quantidades: (universo de 14 habitações)
·
Onze (11) casas tinham uma TV em cada
uma, e somente em uma delas não tinha também uma antena parabólica. Em oito (8)
habitações há em cada uma um (1) aparelho de DVD e em seis (6) há um (1) aparelho
de rádio em cada uma. Em apenas uma das casas há dois (2) computadores.
·
Em cinco (5) das casas há fogão, em
nenhuma há micro-ondas e em três (3) há outros eletrodomésticos de cozinha
(liquidificador por exemplo). Cinco (5) das casas tem armário de cozinha.
·
Oito (8) das casas contam com camas, em cinco
(5) casas há apenas uma cama, em uma das casas há duas (2) camas, uma das casas
há três (3) camas e em outra há o número de quatro (4) camas.
·
Apenas três (3) das casas tem
ventilador, duas (2) com um (1) ventilador cada e uma casa com dois (2)
ventiladores. Somente em duas (2) casas há ferro de passar roupas e em três (3)
das casas há guarda roupas.
· Em sete (7) das casas há relógios de parede
e em quatro (4) há estantes ou moveis para TV. Em apenas uma das casas há um (1)
carro e uma (1) moto.
Observações gerais do
campo (Aldeia São José)
As casas indígenas ficam
numa distancia relativamente próxima uma das outras, não são separadas por
limites, cercas, algumas poucas tem algum tipo horta no quintal e criação de
animais como galinhas, há roças de subsistência que são um pouco afastadas das
casas. Há quintais muito bem cuidados, limpos, enquanto há outros sujos de lixo
(embalagens, sacos dos produtos comprados na cidade), mato ou folhas, há muitas
arvores de grande e médio porte ao redor das casas.
Durante a visita, esta
que foi no horário da tarde, a maioria dos índios estava e continuou dentro das
casas e outras famílias, mais mulheres e crianças, ficaram sentados em bancos,
troncos na parte externa das casas. Há uma unidade escolar na aldeia com uma
nova e boa estrutura, há um campo de futebol que fica no centro da aldeia,
usado para festas e rituais, no dia da visita estava acontecendo o encerramento
da “corrida das toras”, uma das festividades dos apinayé.
Mesmo alguns
demonstrando timidez e estranheza pelos visitantes, foram muito solícitos em
participar das entrevistas, muitos apareceram para tentar vender seus
artesanatos e alguns fizeram trocas com objetos dos visitantes, alguns dos
estudantes foram pintados com tinta extraída de sementes locais, em traços característicos da cultura
apinayé, em troca de bens ou dinheiro.
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