Dhiogo Rezende para o educAÇÃO BR
De 23 a 25 de abril, professores de todo país paralisam suas atividades nas escolas para reivindicar
100% dos royalties do petróleo e 10% do PIB para educação, respeito ao
pagamento do piso salarial, valorização e revisões das jornadas, dos planos de
cargos, carreira e remuneração, pela aplicação do Plano Nacional de Educação, profissionalização e formação dos demais funcionários da educação.
Parados nas atividades
escolares, mas em intenso movimento nas ruas e praças, os educadores (nem
sempre a maioria deles) mostram a cara e erguem suas vozes de protesto aos ouvidos dos governantes e de toda sociedade brasileira, ao menos uma vez por ano, lembrar e refletir sobre
os descasos e desmandos na educação pública, que sendo deficitária com a categoria docente, passa a não
ser um problema exclusivo dos professores e sim, de toda nação.
“Um país se faz com
homens e livros” e um país sério se faz com homens sérios que levem a educação
a sério, mas infelizmente, é histórica a falta de investimentos e o descuido dos
governos com nossa educação, transformada em sucata. É urgente a participação, não
apenas dos professores, mas de estudantes, pais, toda a sociedade na luta incansável de todos os dias do ano, por uma educação de qualidade real e não
essa que estampa falsas propagandas nas mídias pagas pelos governos com
dinheiro público.
Mesmo que ainda não
exista uma unidade nacional na luta pelas melhorias na educação pública
brasileira, podemos notar um nítido avanço com a participação das minorias como
a indígena na linha de frente dos protestos. Dezenas de índios apinajés, entre
eles, seus professores indígenas, alguns com ensino superior como Júlio Apinajé,
formado em Educação Indígena pela Universidade Federal de Goiás, saíram das
aldeias para junto aos professores do município de Tocantinópolis, levarem a público que a educação em todos os níveis, não está caminhando congruente com a
situação econômica que vive o Brasil.
Prof. Júlio Apinajé e Prof. Cleber Borges. Presidente do SINTET - Tocantinópolis |
Dentro das falas indígenas,
ficou exposta a situação de abandono e exclusão que passa a educação indígena do Estado do Tocantins, nos remetendo a uma problemática que deve ser nacional. Os
professores índios trabalham como os professores não indígenas e mesmo assim
não recebem nem o piso salarial que atualmente é R$ 1.567,00, além disso, mesmo
os que são efetivos do estado, não possuem e não são regidos pelo
Plano de Cargos e Carreira dos demais educadores tocantinenses lotados no sistema estadual de ensino.
Os apinajés nas seis aldeias que compreendem o município de Tocantinópolis, são cerca de 800 habitantes, o centro educacional e diretor das demais escolas fica na aldeia Mariazinha. Há um desrespeito enorme separando e excluindo os professores e a educação indígena dos parâmetros básicos e sobre protestos da educação nacional, uma política de governo ainda mais excludente, pois a educação indígena nem ao menos esta equiparada a tão maltratada educação regular.
Os apinajés relataram
que nas escolas indígenas há falta de estrutura, de ônibus escolares próprios
para as estradas das aldeias, falta de funcionários como vigias, merendeiras e
ASG’s, pedindo até um concurso para várias áreas, falta de laboratórios de
informática com internet, os computadores que foram entregues, mas que por falta
de uso e profissionais especializados se encontram obsoletos, falta de material
escolar e pedagógico, inexistência de quadras esportivas, atrasos na merenda
escolar.
Ainda constou na reivindicação
dos índios, que o calendário escolar indígena não tem início e fim como o
calendário regular do estado, situação que deixa todos os anos as comunidades indígenas
com lacunas e atrasos no ano letivo. Os professores apinajés, em suas falas são
exemplos de como anda nosso sistema escolar, que é precário na educação pública
da maioria e absurdamente falho com a educação pública das minorias.
Todas as reivindicações
indígenas foram recebidas pelo SINTET – Tocantinópolis, na pessoa do Presidente
Cleber Borges, que por sinal são históricas, ao menos no que se refere à educação indígena na região do Bico do Papagaio, por se tratar da primeira vez
que representantes, e professores indígenas aderiram à paralisação nacional da
educação. Júlio Apinajé, diretor da Escola Indígena Tekator (escola matriz,
aldeia Mariazinha), mostrou grande consciência de classe em seus discursos
politizados, disse: a participação dos índios na greve nacional da educação
serve tanto para melhorias na educação indígena como para a visibilidade das
questões indígenas e o despertar do devido respeito por parte da
sociedade não indígena.
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