Do educAÇÃO BR
Entendendo nossa história, entenderemos nossa formação etnocêntrica, aprendemos a julgar pelas tutelas de quem historicamente nos subjugou no nosso passado quinhentista colonial, acostumamos a olhar o diferente não apenas como o que ele é de fato, diferente. Vamos além, é diferentemente feio, inferior, pobre, errado, subversivo, na contramão do progresso, uma pedra no nosso caminho. O diferente sempre esteve na nossa frente, "nenhum ser humano é uma ilha", o contato é tão natural quanto o estranhamento gerado por ele, mas não podemos conceber que o natural também seja um humano destruir o outro por motivações analiticamente banais, isto se faz inversamente as nossas capacidades, as faculdades humanas que nos tornam únicos diante de todos os animais, é só atentar para o fato que dentre todas as espécies, somos a única que se autodestrói, então somos tão ou mais animais que os outros animais?
Éramos mais humanos no sentido racional e de solidariedade
quando o sapiens ainda não nos tinha chegado como alcunha? Não, nem assim, nossos
ancestrais poderiam ser mais harmônicos internamente em seus grupos, mas a
competição pela sobrevivência, pelo domínio do fogo, depois pelas terras agricultáveis
era massacrante, o sujar as mãos com sangue da mesma espécie já estava escrito nas
nossas primeiras páginas, sempre fomos conquistadores uns dos outros, do corpo
ou da mente. Seria a versão evolucionista, por tanto não teológica da expulsão do paraiso e depois Caim matou Abel?
Antes de falar do espiritual, o professor precisa centrar os
estudantes da constituição humana, primeiro, quem é este bicho-homem? Depois, o
que é a religião? A religião não criou o homem, este é que a fez, e a construiu
em cima das suas necessidades, do processo de significação do que para ele tem
significado, somos fruto da nossa capacidade de ser o que precisamos ser. Estaríamos
a partir de então matando o conceito de religião e a sua importância?
Logicamente que este tipo de abordagem baterá de frente com
tudo que lhes foi dito desde sempre, há explicações religiosas, teológicas para
a criação, aparecemos então como criatura, e se assim somos, temos então um
criador – DEUS, quem veio primeiro, o ovo ou galinha? Entretanto é neste choque
que pode residir uma boa aula e isenta de doutrinações, de enfraquecimento ou recrudescimento
da fé, ou da razão cientifica. As bases antes divididas, na aula, na escola composta
pelo pluralismo cultural, estas dicotomias devem assentar o mesmo banco para
depois os próprios estudantes, partindo de suas construções e formações de
berço, possam falar, debater, discutir, criticar, se enganar, se acertar
segundo seus juízos.
- Professor, o senhor acredita em Deus?
O professor de história, filosofia, ou sociologia carrega a
peculiaridade da capa de ateu, da roupa de não cristão, podem ser, podem não
ser, mas a imagem, os estereótipos já estão postos pelo mesmo processo que
consta na introdução deste texto, diante deste etnocentrismo nato, é que mora
ainda mais a necessidade deste professor desnudar a sala de vícios de
pensamentos apologéticos ou repressores do livre pensar, é preciso o
entendimento de quê religioso ou não, o processo de conhecimento, de qualquer
área filosófica ou da ciência, das religiões, precisa de certo desarmamento
para ao menos haver a escuta primeiramente que a fala e seus juízos verbalizados
para desconstruções ou construções, transformando a sala de aula em um ringue
entre os que têm religião e os que não têm, mandando a mediação do professor para
escanteio.
Conhecendo-se o humano, conhece-se a religião e as ideias de
Deus em toda sua pluralidade, cada estudante deve aprender a conhecer sem
querer impor o que os outros devem conhecer. Ninguém deve conhecer
necessariamente como o outro, ou o que o outro conhece. O humano inconcluso,
fraco, passivo de erros, falho, animal, deve ser conhecido pelos discentes, nada de “super-homens”
da ciência ou da religião, o demasiado humano deve ser visto a olho nu.
Ao professor cabe empinar essa pipa, deixá-la no céu visível
a todos, a linha também deve ser passada a todos os estudantes, na sua hora, na
sua ideia, na sua mente, ela vai para onde eles quiserem, o importante é não
ser o dono da pipa, da verdade.
Aprendendo a não julgar, ou a julgar melhor, com respeito e
análise coerente e ética, estaremos de fato introduzindo na escola os pilares
das religiões como um todo, já estará se ensinando religião como área de
conhecimento e usando em loco uma de suas práticas, já que a mesma foi feita
pelos homens e não por Deus, a religião filha de seu criador é naturalmente falha,
mas carregada de acertos e caminhos harmoniosos, acontecendo isto na sala, não
estará se fazendo necessariamente um ato religioso estrito, pois não se estará “religando”
nenhuma criatura a algum criador, não se estará dando forma a isto,
simplesmente a humanidade está sendo processada, a religião é tão humana como
pode ser divina, e na escola, quanto mais diverso for o olhar religioso, menos
proselitismo, menos ataques, menos defesas, mais conhecimento.
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