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A recente implantação
do Curso de Pedagogia do Campo com habilitação em música e artes, na Universidade Federal do Tocantins, campus de
Tocantinópolis, este que antes tinha apenas dois cursos, Pedagogia e Ciências
Sociais, ambos de licenciatura, esteve sobre dias turbulentos referentes a
protestos, criticas agudas, defesas aguerridas no âmbito dos corpos docente e
discente, e de outros críticos da comunidade.
O Brasil e seu passado agrícola, ainda presente,
com séculos de colonização e todo contexto de maus tratos com os atores econômicos
que sentavam nas mais inferiores camadas hierárquicas de um país moldado pelo
escravismo, no regime do patriarcado aristocrático, do coronelismo, das
oligarquias que pelo poder da terra até os dias atuais imprimem em nossa
sociedade, ranços de preconceito e descompromisso ou agora exploradas pelo
agronegócio, mesmo em tempos democráticos com as bases sociais que se fixaram e
vivem ou sobrevivem do nosso campo.
Somente nos últimos
anos, décadas, da redemocratização para cá, que a nossa educação entrou em
um processo de reforma tanto de estado, como de aparelho administrativo e
executivo, face mudanças na LDB, alterações que tentam tornar a nossa educação
mais universal e comprometida com a justiça e inclusão social. E algumas
mudanças podem incomodar, sempre podem ferir o estatuto da classe dominante, da
elite que continua em suas devidas proporções ou “roupagens” a mesma de um
Brasil que ficou “independente dependente”, com uma monarquia exclusivista,
depois com um golpe da República que inventou uma democracia que só serviu e
ainda serve a elite.
É só analisar uma
conexão entre as várias criticas que receberam e ainda recebem politicas de
cotas, de ingresso de jovens de baixa renda nas universidades federais, ao se
misturarem com os filhos da elite, a aversão é entendível partindo do ponto
vista do andar da nossa história, assim também ocorre com a implantação de um
curso de pedagogia do Campo em detrimento de um de Direito, Medicina,
Fisioterapia, ou outras formações consideradas elitistas.
Este discurso da “formação
ideal” no Brasil sempre desqualificou as licenciaturas, a formação de professores
é um caco de vidro, precária e incongruente com as demandas de qualidade no
ensino e aprendizagem, os cursos que licenciam professores são ingressados por
membros menos abastados da nossa sociedade, os descendentes dos que tem “posses”
devem ter outra formação, os próprios pais, tanto os da elite quanto os de
classes desfavorecidas tem o discurso de que o filho tem que ser “doutor”, o ser
professor é carregado de preconceitos e desconfianças e muitas vezes colam na
cabeça dos formandos em licenciatura e para tudo chegar a autodesvalorização da
profissão ou não entendimento do papel do professor pelos próprios, é um pulo.
Mesmo que a
universidade esteja enraizada em uma região com cheiro e cores do campo, mesmo
nos espaços mais urbanizados das pequenas e médias cidades rodeadas de
assentamentos, um curso de pedagogia do campo pode ser mal interpretado ou
mesmo ignorado. É preciso entender as implicações politicas que escolhas de
cursos como estes guardam, movimentos sociais de cunho acadêmico e políticos e às
vezes partidários podem ser ingredientes destes processos que podem apresentar
distorções, principalmente quando os interesses não sejam para as populações
campestres, sobretudo uma formação que diretamente represente a melhoria de vida e qualidade no campo.
Há que se ater a casos
particulares de cada universidade e seus contextos, a oferta de mais cursos e
outros que chamem mais atenção dos jovens é por hora o único caminho para estes que não aprenderam e não entendem a importância
das licenciaturas, muito menos uma voltada para o campo, até os viventes das
zonas rurais, talvez queiram outras carreiras e nesta perspectiva isso pode ser
ruim como também bom.
O campo no Brasil, as
escolas que lá se erguem vivem outras dinâmicas, as cabeças pensam diferente
das que estão em espaços mais urbanos, por isso é necessária uma pedagogia
adequada, ou seja, um professor com esta formação, contudo, o termo “universidade” deve ser mais bem empenhado tanto na
sua natureza de diversidade, pluralidade na sua grade cursos, como na atenção
as demandas sociais das comunidades que atue praticando o ensino, pesquisa e “extensão”,
principalmente quando o dinheiro público financia as decisões tomadas na academia,
colocando a sociedade como receptora dos benefícios ou prejuízos de tais definições.
Óimo texto, professor! Muito oportuno! Fico tão entusiasmado com clareza com que o tema é aqui abordado, quanto decepcionado com a indiferença com que é visto pela maioria dos professores que trabalham nas ecolas do campo, e mesmo das pequenas cidades da nossa região. Cidades essas, que, como dito por você, são essencialmente rurais.
ResponderExcluirSeria essa indiferença um claro sintoma de auto rejeiçã? Seria essa celeuma provocada no campus de Tocantinópolis pelo projeto de implantação do Curso de Pedagogia do Campo, apenas um sinal, ou melhor, a exteriorização desse estígma, que ao longo do tempo vem marcando as pessoas que, por ironias do destino nasceram no campo, e que, por motivos que talvez não caiba discutir aqui, não tiveram outras opções de trabalho?
De qualquer forma, professor, com polêmicas ou sem polêmicas, o Curso é bem-vindo. Já não era sem tempo! Afinal, encontram-se já em fase de conclusão, duas Escolas Famílias Agrícolas em nossa região - uma em Esperantina e outra em Riachinho - o que já impõe uma necessidade imediata de pessoal com formação específica em Educação do Campo.
Mais uma vez, parabéns pelo texto, tão bom quanto oportuno!
Abs.