Mais um início de ano
letivo, estudantes e professores regressam uns mais e outros menos empolgados
com todo o ano que tem pela frente. Tempo que segundo Santo Agostinho é a
imagem móvel da eternidade. O tempo, além de indissociável para vida/existência, é
deveras importante para um amadurecer filosófico, seu entendimento e didatismo possível como eixo para
diversas disciplinas, não somente da área de humanas. Só lembrarmos da teoria da relatividade para física...
Trabalhando o conteúdo “Introdução
aos Estudos de História” nas turmas de 1º anos do ensino médio, diante de
vários conceitos pertinentes a História como ciência ou como literatura, não há
como entender a construção e o desenvolvimento do conhecimento histórico sem
perceber e entender as várias concepções de tempo, sendo o “da alma” ou “do
mundo” (Stº Agostinho, Aristóteles).
O tempo histórico carece de análises que o
enquadrem melhor como próprio da história e para isso, são necessárias
abordagens filosóficas básicas como as iniciadas por Heráclito e Parmênides,
sobre a fluidez e a transformação das matérias e do ser frente ao que chamamos
de tempo. A partir deste eixo temático, o professor de História Dhiogo Rezende
baseando-se em uma matéria de jornal sobre um professor de química que propôs uma
atividade onde os estudantes deveriam escrever uma carta para eles mesmos, de
modo que estas ficariam guardadas para serem entregues aos próprios docentes no
futuro (distante), tais cartas foram entregues pela filha do professor que faleceu antes de completar a proposta, criou a atividade “Cartas Para Amanhã”.
Após aulas sobre o
conceito e a importância da história, sobre o fato de todos pertencerem à
história como sujeitos, as fontes históricas no trabalho dos historiadores e sobre
o tempo histórico, foi pedido que os estudantes elaborassem um texto
dissertativo sobre suas impressões diante da construção de suas próprias histórias,
como indivíduos parte de um coletivo, a família, a comunidade, o país, de modo
que eles relacionassem esse comando inicial com as suas percepções de passado,
presente e futuro, deixando claro para eles que apesar da história não contar
com o futuro em suas análises, como também não se pode pensar na história
somente no passado, distante do presente, é sempre humano ter expectativas sobre
o futuro, sobre o amanhã. Por isso a importância do conhecimento histórico e da
relação desta com o tempo.
As cartas foram feitas
e entregues com empolgação, pois a atividade gerou aquilo que justamente está
previsto como seu objetivo, a reflexão sobre a fluidez, mudança, transformação
e ao mesmo tempo permanência da vida, da história, tornando o tempo, um jogo
onde não se sabe ao certo quem perde e quem ganha, mas com certeza perde muito
quem não se arrisca e não se prepara para jogar. As tais cartas serão entregues
em três anos, quando eles estiverem em um ano importante de suas vidas, o 3º
ano do ensino médio, no ano de 2018.
Alguns demonstraram
mais expectativas, outros menos sobre o impacto que aquelas palavras de um "presente que já é passado" terão, como se acomodarão com o que virá no futuro de cada um. O importante
é que esta atividade, assim como o tempo que não nasceu e morreu, vai existir não só
por três anos, estará presente em cada um na construção de suas histórias, sem prazos de validade, desde
que estas tenham importância. Um trabalho pedagógico que no momento da escrita
da carta, até o dia em que ela será entregue aos seus donos e donas, ficará viva, mesmo que
para alguns fique serena e parada, quando se vive distraindo a vida com o
próprio viver, desapegado de reflexões um pouco mais densas sobre a vida e o tempo diante das instantaneidades da vida moderna, tão características da juventude do século XXI apresentam. Essas cartas ainda darão muito o que falar... no encontro destes jovens com eles mesmos em 2018, em suas mudanças e permanências na vazão dos rios de suas histórias.